Jornalista liberiano instado a revelar fonte

O jornalista liberiano Hassan Bility foi instado pelo Tribunal Especial para a Serra Leoa, em Haia, a revelar a fonte que facilitou a sua viagem àquele país, viagem essa que serviu de base a um artigo de 1997 no qual se alega a existência de laços entre tropas governamentais da Libéria e rebeldes leoneses.

Durante o seu testemunho ao tribunal, o jornalista recusou-se a nomear a fonte, mas revelou que esta era um soldado nigeriano que participava numa operação regional de manutenção da paz e que continua no activo, na Nigéria.

O Tribunal Especial para a Serra Leoa pretende descobrir se o ex-presidente liberiano Charles Taylor é culpado de crimes contra a humanidade e crimes de guerra, devido ao seu alegado apoio aos rebeldes da Frente Unida Revolucionária na Serra Leoa.

Perante a recusa do jornalista em nomear a fonte, a juíza presidente, Teresa Doherty, solicitou à defesa e à acusação a entrega de moções escritas que contribuam para a tomada de uma decisão sobre se deve exigir ou não a quebra do sigilo a Bility, tendo a defesa de Charles Taylor argumentado que alguém que facilita o acesso não é uma fonte e deve, como tal, ser nomeado.

Contestando esta visão, o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) afirma que “obrigar Hassan Bility a revelar a sua fonte pode abrir um perigoso precedente que complicaria o acesso a zonas de conflito, prejudicando futuras reportagens”.

Acrescentando que está a acompanhar este caso com muita atenção, a organização destaca que “a reportagem de Hassan Bility demonstra que os jornalistas desempenham um papel vital na documentação de abusos de direitos humanos em zonas de conflito” e sublinha que obrigar à revelação desta fonte pode fazer com que “o desempenho desta função vital se torne muito mais difícil” para a classe jornalística.

Antigo editor do semanário “The Analyst”, Hassan Bility foi preso durante seis meses em 2002, acusado de ser um “combatente inimigo”, e revelou mais tarde que foi torturado na presença de Charles Taylor. A tortura causou-lhe danos que obrigaram a uma intervenção médica no Gana e posterior exílio nos EUA.

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