Jornalismo profissão de desgaste rápido

Estudar o impacto que a actividade profissional dos jornalistas tem sobre a sua saúde, designadamente no foro cardiológico, é o objectivo de um estudo que envolve 600 profissionais de 63 redacções. O rastreio, solicitado pelo Sindicato dos Jornalistas, está a ser efectuado pela Fundação Portuguesa de Cardiologia, com o apoio do Ministério da Saúde.

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) lançou os objectivos de reduzir os horários de trabalho, alargar o período de férias e antecipar a idade da reforma. Aproveitando a cerimónia de assinatura, em 30 de Maio de 2001, de um protocolo entre o SJ, o Ministério da Saúde e a Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), para a realização de um rastreio cardiológico aos jornalistas, a Direcção do Sindicato colocou na ordem do dia a necessidade de considerar o jornalismo como profissão de desgaste rápido.

Jornadas de trabalho muitas vezes intensas e prolongadas, horários e períodos de descanso irregulares, regimes alimentares incorrectos, deficientes condições de iluminação e climatização dos locais de trabalho, mobiliário de dimensões e concepção

desadequadas, assim como a pressão da crescente competição, a precariedade e o receio do desemprego são algumas das condições de trabalho e estão na origem de elevados níveis de stress e angústia cujos efeitos sobre a saúde dos jornalistas é necessário estudar.

«Sabendo que o estudo confirmará, seguramente, as apreciações que vamos fazendo quanto aos efeitos, sobre a saúde dos jornalistas, das condições em que estes exercem a sua profissão, condições estas que são, muitas vezes, um elemento de fascínio aos olhos de muitos jovens atraídos para ela, queremos dizer-vos sinceramente que não temos um propósito egoísta de proteger apenas os nossos associados», declarou o presidente da Direcção do SJ, Alfredo Maia.

«Em última análise», explicou, «o que está verdadeiramente em causa, além da protecção de um elementar direito chamado saúde, é o direito dos cidadãos a serem informados, desiderato este que só pode ser satisfeito se os profissionais aos quais está entregue a obrigação constitucional de o concretizar tiverem assegurada a plenitude das condições para o exercício da profissão».

Para atingir os objectivos enunciados, designadamente a antecipação da reforma para os 30 anos de serviço ou 55 de idade, o SJ propõe-se realizar com outras instituições médico-científicas estudos como que foi encetado, os quais carecem, obsevrou o presidente da Direcção, do apoio do Ministério da Saúde.

Em resposta, a ministra da Saúde, Manuela Arcanjo, ofereceu a colaboração da a Direcção-Geral de Saúde (DGS) ao SJ, para a elaboração de normas sobre as condições de trabalho dos jornalistas, mostrando-se ainda disponível para apoiar todos os projectos

que contribuam para “melhorar a saúde dos portugueses”.

Por seu turno, o presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia (FPC), Manuel Carrajeta, frisou os “riscos” da nossa profissão. Para este cardiologista, «os jornalistas vivem sob uma enorme pressão profissional, social e psicológica, o que conduz à adopção de hábitos de vida pouco saudáveis, como a falta de actividade física e a má alimentação», a qual é feita frequentemente fora de horas, à base de fast-food e muita cafeína, o que os torna mais susceptíveis às doenças cardiovasculares.

No âmbito do protocolo entre a FPC, que assegura a componente científica do estudo, o SJ, responsável pela participação dos jornalistas, e o Ministério da Saúde (MS), que apoia e financia a acção, o rastreio, com seis meses de trabalho de campo, tem por

objectivo estudar o impacto que a actividade profissional dos jornalistas tem sobre a sua saúde e contará com uma amostra de 600 profissionais de 63 redacções.

O estudo inclui um questionário anónimo sobre os hábitos pessoais dos jornalistas em matéria de alimentação, tabagismo, stress e actividade física. Electrocardiogramas e análises ao sangue (colesterol e açúcar no sangue), medição da tensão arterial e avaliação do índice de massa corporal (peso e altura) completam o estudo.

A ideia do rastreio cardiológico dos jornalistas deve-se aos jornalistas Diana Andrianga, presidente da Assembleia Geral do Sindicato e antiga presidente da Direcção, e Miguel Mauriti, dinamizador do Núcleo de Saúde do SJ, sendo deste também o extraordinário e decisivo trabalho de negociação do protocolo com a FPC e com o Governo.

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