Jornais alemães recusam “revisão” de peças

A prática corrente na imprensa alemã de os políticos e empresários reverem as entrevistas dadas aos jornalistas, depois destes as terem escrito, está a gerar o descontentamento nos média, tendo nove jornais da Alemanha tomado a 28 de Novembro uma posição conjunta para mudar a situação.

A iniciativa partiu do jornal “Tageszeitung”, mas a ela associaram-se também o “Die Welt”, “Sueddeutsche Zeitung”, “Frankfurter Rundschau”, “Koelner Stadt-Anzeiger”, “Tagesspiegel”, “Financial Times Deutschland”, “Frankfurter Allgemeine Zeitung” e “Berliner Zeitung”, que deram espaço ao assunto nas suas páginas.

Até agora, os políticos alemães e alguns homens de negócios podiam ter acesso às entrevistas antes da sua edição, podendo corrigir ou alterar as suas declarações, o que tem vindo a desacreditar a entrevista enquanto género jornalístico válido. A situação era, contudo, aceite pela imprensa, como forma de assegurar o acesso a determinadas fontes.

O “Tageszeitung”, jornal de esquerda, tornou público o seu descontentamento ao publicar uma entrevista com Olaf Scholz, secretário-geral do Partido Social-Democrata, no governo, onde, em lugar das respostas, se apresentava uma barra negra. Isto porque Scholz, após conceder uma entrevista ao jornal, condicionou a publicação à reformulação das suas respostas e até mesmo de certas questões, o que o periódico recusou.

Por seu lado, o “Berliner Zeitung” revelou que Joschka Fischer, o ministro dos Negócios Estrangeiros, já chegou a impedir a edição de uma entrevista que lhe fora feita, deixando o jornal sem nada para publicar.

A prática de “revisão” das entrevistas pelos entrevistados – que terá começado em 1947 com a revista semanal “Der Spiegel” – tem vindo a aumentar e agravou-se nos últimos dois ou três anos, segundo Henrick Zoener, porta-voz da Federação de Jornalistas Alemães.

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