Organizado por Chris Foges, o livro «Design de Revistas» (ed. Destarte, Lisboa, 2000) esmiuça, até ao mínimo pormenor, tudo o que faz parte do «design» de uma revista, desde a capa aos códigos de barras, passando pela paginação, publicidade e ilustração. Recensão crítica de Carla Rodrigues Cardoso.
«Design de Revistas» assume-se como uma publicação diferente pelo formato escolhido — um pouco maior que o A4 — e pela capa de fundo verde cinzelado, onde se destaca o título de letras brancas no canto superior esquerdo, enquanto várias linhas na mesma cor percorrem o lado direito e desenham uma cortina aberta lateralmente.
Quem procura uma explicação na contracapa depara-se com o índice do livro. Em vez de o contextualizar, Chris Foges — que se intitula, com modéstia, organizador da obra — preferiu enumerar conteúdos. E nada foi esquecido. Desde a capa aos códigos de barras, passando pela paginação, publicidade e ilustração, tudo o que faz parte do «design» de uma revista é esmiuçado até ao último pormenor. Despe-se a estrutura gráfica das publicações periódicas e revelam-se os seus segredos.
Percorrendo rapidamente as páginas do livro sente-se a qualidade do papel e fica-se absolutamente fascinado com as excelentes imagens coloridas, retiradas de mais de uma centena de publicações diferentes e arrumadas de uma forma moderna e sedutora.
Apetece ler «Design de Revistas». Mas, em primeiro lugar, apetece admirar esta obra. A primeira vontade é observar todas aquelas capas e páginas retratadas e perceber de que forma o «design» contribuiu para inovar as publicações.
Embora Chris Foge admita que o objectivo principal do «designer» é organizar todos os conteúdos de uma publicação, de forma a «dar-lhe uma personalidade ou identidade distintiva», o autor sublinha a diferença que significa trabalhar no mundo editorial. Citando o crítico Teal Triggs, Foges escreve: «Historicamente, as revistas têm sido o lugar de desenvolvimento de novos vocabulários de “design” bem como de processos técnicos». Acrescenta ainda que «os leitores formam um elo emocional com os seus títulos favoritos, quer pelo seu conteúdo quer pelo modo como se apresentam».
Chris Foges fala através de sete «designers» reputados internacionalmente. Em sete capítulos diferentes, as denominadas «entrevistas» surgem como grandes reportagens em que o organizador do livro, jornalista de profissão, aproveita biografias profissionais para focar os aspectos essenciais do «design» de revistas.
O mítico David Hillman é o primeiro convidado. Hillman completa 40 anos de carreira no próximo ano e já trabalhou o «design» de jornais famosos como o britânico The Guardian e o francês Le Matin. Contudo, continua a ser recordado pelo trabalho como director de arte da revista Nova, a publicação feminina que desafiou pela primeira vez todos os tabus, ao mesmo tempo que utilizava o «design» como arma para fazer passar melhor as mensagens. Neste primeiro capítulo, Chis Foges, a partir do trabalho de Hillman, analisa a «embalagem» da revista.
Os formatos são analisados no segundo capítulo, a propósito de Fernando Gutiérrez. Este «designer» nascido em Londres, de pais espanhóis, deixou-se seduzir pela Espanha pós-franquista, após estudar desenho gráfico em terras de Sua Majestade. Desenvolveu vários trabalhos até se tornar notado pelo «design» e direcção de arte do Tentaciones, o suplemento jovem do El País, lançado em 1993. Cinco anos mais tarde, Gutiérrez aceita a direcção de arte da revista de moda Vanidad. O êxito é tão grande que o «designer» acaba por ser convidado a reformular a publicação de forma a ser editada em todo o continente americano, para mais de 300 milhões de pessoas.
Simon Esterson, Mark Porter, Stephen Gan e Vince Frost são os outros convidados de «Design de Revistas», que termina com as experiências de Roger Black. Este último, após ter trabalhado em títulos carismáticos como Rolling Stone, Newsweek e Esquire, dedicou-se, a partir de 1994, ao admirável mundo novo das revistas «on-line»: as «webzines».
Design de Revistas inclui ainda uma bibliografia de 16 títulos. Uma preciosidade para quem quer investigar a importância do «design» na construção da totalidade do produto jornalístico.