Ignacio Ramonet propõe informação “bio”

Os consumidores precisam de se organizar por uma informação “bio”, mais saudável e menos contaminada do que a actual, porque o sistema mediático que temos não responde às preocupações dos cidadãos, defendeu, em Lisboa, Ignacio Ramonet, director de “Le Monde Diplomatique”.

De visita a Portugal, no âmbito da comemoração do 5º aniversário da versão portuguesa do “Mdiplo”, que coincide com os 50 anos da edição francesa, o jornalista relembrou, dia 29 de Abril, uma ideia que lançou no Fórum Social Mundial: um observatório internacional dos média que juntasse a informação de vários observatórios nacionais compostos por jornalistas, teóricos da comunicação e cidadãos comuns.

Estas entidades já existem em países como Alemanha, Brasil, Espanha, França e Venezuela, e o seu objectivo é levar os consumidores de informação a exigir qualidade na comunicação social e a acabar com a situação de “insegurança informativa” que se vive nas democracias ocidentais.

Segundo o director de “Le Monde Diplomatique”, essa desconfiança dos cidadãos em relação à comunicação social tem vindo a aumentar, devido a casos como o das armas de destruição maciça, cuja alegada existência serviu de pretexto para a guerra no Iraque, ou a ocultação e manipulação de informações em Espanha sobre os atentados de 11 de Março.

Neste último caso, Ignacio Ramonet considera que, ao verem a posição de submissão dos média face ao poder político e/ou económico, os cidadãos encontram outras formas mais artesanais de se mobilizarem, como o SMS.

No entanto, em declarações ao Sítio do Sindicato dos Jornalistas, Ignacio Ramonet disse que apenas as tragédias impelem os cidadãos a manifestar-se desta forma, devido ao peso emocional que lhes está associado.

Perante um auditório repleto, no Instituto Franco-Português, o intelectual francês falou ainda sobre o livro “O novo rosto do mundo”, editado pela Campo da Comunicação”, onde aborda problemas do mundo actual, destacando as questões da geopolítica e da geoeconomia.

Num mundo “cada vez mais difícil de interpretar”, o director de “Le Monde Diplomatique” considera que jornais como aquele que dirige fazem falta, para ajudar os cidadãos a compreender a realidade.

Posição semelhante tem Borges Coelho, director da edição portuguesa, para quem o jornal é “uma das poucas ilhas onde nos podemos ancorar, no meio de toda esta imprensa/empresa, que apenas busca o lucro, não a verdade”.

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