FIJ exige justiça no caso Terry Lloyd

Revelações recentes de que o jornalista Terry Lloyd, da cadeia televisiva britânica ITN, terá morrido na sequência de disparos norte-americanos sobre um minibus civil iraquiano, levaram a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) a exigir, a 13 de Setembro, o fim da “cultura de segredo e engano” no seio das chefias militares.

“O segredo em torno dos casos em que jornalistas morreram às mãos de tropas norte-americanas tem de acabar”, diz Aidan White, secretário-geral da FIJ, acrescentando que “se o Pentágono não disser a verdade, um processo de investigação internacional independente será posto em marcha”.

A 22 de Março, Terry Lloyd e a sua equipa, da cadeia televisiva britânica ITN, foram apanhados num tiroteio a sul de Bassorá. Pensou-se inicialmente que o jornalista teria morrido devido aos ferimentos recebidos nesse ataque, mas a semana passada – seis meses depois do incidente – novas provas revelam que um minibus civil que levava o repórter para o hospital foi alvejado. Lloyd, ferido no estômago, foi alvejado uma segunda vez, desta feita na cabeça, chegando ao hospital de Bassorá já sem vida.

Estas informações foram reveladas ao jornal britânico “The Daily Mirror” por um empresário de Bassorá, que garante ter dito aos investigadores militares que Lloyd não morreu no tiroteio mas mais tarde, após o veículo onde seguia para o hospital ter sido atacado por um helicóptero norte-americano.

A FIJ considera que o encobrimento militar da verdade sobre o que se passou no tiroteio na estrada para Bassorá – incluindo o desaparecimento de dois dos colegas de Lloyd, o repórter de imagem Fred Nérac e o tradutor Ottmar Hussein – confirma as suspeitas de que os soldados norte-americanos implicados no assassínio de jornalistas e profissionais dos média têm actuado com impunidade.

O caso de Lloyd enfureceu a administração da ITN, que exigiu uma explicação do Pentágono sobre o porquê dos disparos das forças dos EUA sobre o minibus civil iraquiano.

Em resultado da sua própria investigação interna, também a ITN acredita que um helicóptero norte-americano disparou sobre o minibus, até porque Hamid Aglan, o dono do veículo, declarou ao “The Daily Mirror”: “O piloto do helicóptero matou-o. Isso não devia ter acontecido. O jornalista estaria vivo se tivesse chegado ao hospital”.

Face a estas revelações, a FIJ acredita que os militares dos EUA estão a contrariar a lei internacional, que proíbe disparos sobre civis ou ambulâncias.

Já no mês passado, a organização condenara a investigação militar dos EUA do ataque ao Hotel Palestina, em Bagdade, a 8 de Abril, no qual morreram dois jornalistas. De outro ataque norte-americano, às instalações da Al-Jazeera, em Bagdade, resultou a morte do repórter Tareq Ayyoub.

Desde a campanha iniciada em Março, 20 jornalistas e seus assistentes morreram no Iraque, estando dois ainda desaparecidos. Sete das mortes respeitam a jornalistas alvejados por tropas norte-americanas em quatro incidentes distintos.

Segundo a Federação Internacional de Jornalistas morreram e desapareceram no Iraque os seguintes jornalistas e profissionais dos média:

17 de Agosto: Masen Dana (Reuters, Reino Unido)

6 de Julho: Jeremy Little (NBC, EUA)

5 de Julho: Richard Wild (Freelance)

9 de Maio: Elibazeth Neuffer (Boston Globe, EUA)

9 de Maio: Khalifa Hassan Al-Dulami (Boston Globe, EUA)

15 Abril: Veronica Cabrera (TV América, Argentina)

14 Abril: Mário Podestá (TV América, Argentina)

12 Abril: O intérprete iraquiano (de identidade desconhecida) de três jornalistas da Malásia

8 Abril: Jose Couso (Telecinco, Espanha)

8 Abril: Taras Protsyuk (Reuters, Reino Unido)

8 Abril: Tareq Ayoub (al-Jazeera, Qatar)

7 Abril: Christian Liebig (Focus, Alemanha)

7 Abril: Julio Anguita Parrado (El Mundo, Espanha)

6 Abril: David Bloom (NBC, EUA)

6 Abril: Kamaran Abdurazaq Muhamed (BBC, Reino Unido)

4 Abril: Michael Kelly (Washington Post, EUA)

2 Abril: Kaveh Golestan (BBC, Reino Unido)

30 Março: Gaby Rado (ITN, Reino Unido)

22 Março: Paul Moran (ABC, Austrália)

22 Março: Terry Lloyd (ITN, Reino Unido)

Desaparecidos:

22 Março: Fred Nérac e Ottmar Hussein (ITN, Reino Unido)

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