FIJ denuncia arrogância norte-americana no Iraque

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) considera inaceitável a decisão dos investigadores norte-americanos de ilibar as tropas do EUA de qualquer responsabilidade pela morte de Mazen Dana, um premiado repórter de imagem palestiniano morto a tiro a 17 de Agosto, em Bagdade.

Para a FIJ, a decisão – baseada no argumento de que o soltado que disparou confundiu a câmara com um lança-granadas – é arrogante, nega o direito à justiça e visa fazer cair o silêncio sobre a ocorrência.

Entretanto, colegas de Mazen Dana asseguram que os disparos partiram de um tanque a 30 metros do repórter, e sublinham que a câmara usada nunca poderia ser confundida com um lança-granadas a tão curta distância e em pleno dia.

Mazen Dana integrava uma equipa da Reuters que se deslocou à prisão de Abu Ghraib para investigar um incidente suspeito ocorrido a 16 de Agosto, em que o disparo de três morteiros teria morto seis prisioneiros e ferido outros 60. Não tendo conseguido entrar no estabelecimento prisional, os jornalistas preparavam-se para filmar o exterior, o que estavam autorizados a fazer, quando o repórter de imagem foi morto.

Recordando o ataque ao Hotel Palestina a 8 de Abril, um outro cometido contra as instalações da televisão Al-Jazeera no mesmo dia, bem como a morte do jornalista da ITN, Terry Lloyd, e o desaparecimento de dois colegas deste a 22 de Março, a FIJ afirma existir, por parte dos soldados dos EUA no Iraque, a intenção de intimidar os jornalistas.

O clima de impunidade é também contestado pela Repórteres Sem Fronteiras, segundo a qual as conclusões dos inquéritos e a ausência de medidas que previnam a possibilidade de novas tragédias é um insulto aos jornalistas que têm sido vítimas do exército norte-americano no Iraque.

A organização enviou a 18 de Agosto uma carta ao Secretário da Defesa dos EUA pedindo que sejam dadas instruções aos militares no terreno para que actuem com cuidado, respeitando o direito dos jornalistas a exercer o seu trabalho livremente e em segurança. A missiva nunca obteve qualquer resposta e, desde então, já ocorreram novos incidentes.

Precisamente um mês depois do envio da carta, a 18 de Setembro, tropas dos EUA abriram fogo com armas automáticas contra um veículo identificado com as letras AP – em referência à agência de notícias norte-americana Associated Press –, em Khaldiya, 80 quilómetros a oeste de Bagdade.

Na ocasião, o repórter da AP, Karim Kadim, tentava filmar uma caravana militar que acabava de ser atacada, mas teve de fugir debaixo de fogo. Mais tarde viria a saber-se que as tropas dos EUA sofreram pesadas baixas numa série de ataques em Khaldiya.

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