EUA e Europa estão a ser “perigosamente ambivalentes”

Os Estados Unidos e os países europeus têm sido “perigosamente ambivalentes” na defesa das liberdades públicas e da liberdade de expressão, conclui um relatório da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) sobre os problemas enfrentados pelos jornalistas na sequência do 11 de Setembro. A FIJ vai lançar uma campanha internacional para divulgar um conjunto de materiais e linhas de orientação para os jornalistas e os média que estão a cobrir a crise internacional.

Os receios de uma crise para o jornalismo e as liberdades, na sequência dos acontecimentos de 11 de Setembro, são confirmados num extenso relatório produzido pela FIJ, que analisou os problemas vividos pelos jornalistas em dezenas de países de todos os continentes.

O documento prova que nova legislação sobre escutas telefónicas, vigilância policial, tecnologias de descodificação, detenção de imigrantes, controlo da Internet e da liberdade de movimentos está a ser preparada em países como os Estados Unidos, Canadá, Rússia, Austrália e vários estados da União Europeia, como o Reino Unido e a França.

Esta situação levou a FIJ a adoptar um plano de acção, que incluirá o lançamento de cinco prémios regionais de jornalismo, que distinguirão trabalhos promovendo a tolerância. A federação continuará a promover a solidariedade internacional entre jornalistas de todas as culturas e tradições e a sensibilizar os jornalistas e os média para as situações de risco decorrentes da crise internacional.

“A declaração de uma «guerra ao terrorismo» pelos Estados Unidos e pela coligação internacional criou uma situação perigosa em que os jornalistas se tornaram ao mesmo tempo vítimas e actores chave no relato dos acontecimentos”, escreve o secretário-geral da FIJ, Aidan White, na introdução ao relatório.

Para Aidan White, essa declaração de guerra ao terrorismo “criou uma atmosfera de paranóia na qual o espírito da liberdade de Imprensa e do pluralismo tornou-se frágil e vulnerável. Também levou a que houvesse baixas entre os jornalistas e outros trabalhadores dos média”.

O brutal assassínio de Daniel Pearl, no Paquistão, filmado pelos próprios assassinos, tornou-se um símbolo das consequências dramáticas do 11 de Setembro para o jornalismo e a liberdade de expressão. O assassínio, no Afeganistão, de Marc Brunereau, Johanne Sutton, Pierre Billaud, Volker Handloik, Azizullah Haidari, Harry Burton, Julio Fuentes, Maria Grazia Cutuli e Ulf Stromberg foi outro indicador sinistro quanto aos perigos que os jornalistas enfrentam.

“Os média e os jornalistas precisam de resistir às pressões dos políticos que estão dispostos a sacrificar as liberdades civis e a liberdade de Imprensa para ganhar a batalha da propaganda. A prioridade deve ir sempre para o direito a publicar palavras e imagens, por mais desagradáveis que sejam, que ajudem as pessoas a compreender melhor as raízes do conflito. Isso tornou-se mais fácil ou mais difícil?”, interroga o secretário-geral da FIJ.

Este relatório da organização surge na sequência de um primeiro inquérito, concluído em Outubro de 2001, ao qual responderam organizações de jornalistas de 20 países, e que apontava para o risco do desenvolvimento rápido de uma crise afectando o jornalismo e as liberdades, confirmado pelo presente relatório, no qual são analisados os acontecimentos ocorridos até Junho último.

O documento da FIJ elogia o profissionalismo demonstrado pelos jornalistas de todo o mundo na cobertura do 11 de Setembro, que foi, em geral, “contida, inteligente e informada”.

“No entanto”, refere-se nas conclusões, “têm ocorrido inúmeras tentativas dos governos para manipular as mensagens dos média, pressionando os jornalistas, que são um risco para a qualidade da cobertura do conflito. Os jornalistas têm de ser livres para trabalhar sem serem pressionados para utilizarem expressões governamentais como «patriotismo» ou «interesse nacional»”.

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