Dois jornalistas condenados à morte no Afeganistão

O Supremo Tribunal afegão confirmou, no início de Agosto, a condenação à morte de Sayeed Mahdawi e Ali Reza Payam, respectivamente chefe de redacção e repórter do semanário “Aftab”, por “blasfémia”.

Os dois jornalistas, de nacionalidade iraniana, encontram-se escondidos no Afeganistão. Foram acusados por terem denunciado o carácter retrógrado do Islão praticado no país e a utilização política de religião pelos dirigentes conservadores. No artigo que levou à acusação, publicado a 11 de Junho sob o título “Santo fascismo”, os jornalistas questionavam: “Se o Islão é a última religião revelada, a mais evoluída, porque estão os países muçulmanos na cauda do mundo moderno?”

Após a publicação do polémico artigo, o jornal foi encerrado e os dois jornalistas estiveram detidos durante uma semana. Libertados devido à intervenção do presidente Karzai, os jornalistas deviam apresentar-se perante um juiz para prestar declarações. Decidiram no entanto esconder-se, para evitar retaliações, após uma manifestação de islamistas opondo-se à sua libertação.

Um jornal afegão publicou então “fatwas” condenando-os à morte, o que viria a ser confirmado pelo colectivo de 13 religiosos que integram a suprema instância judicial do país.

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), indignada com a decisão, considerou no dia 6 que “é deplorável ver, mais uma vez, os conservadores que dominam o sistema judicial afegão abusarem do seu poder para atacar violentamente a liberdade de expressão”.

A RSF apelou ao presidente Hamid Karzai para que garanta a liberdade dos jornalistas. “Face às últimas decisões do Supremo Tribunal, torna-se mais do que necessário reformar esta instituição para que se torne uma instância independente garante das liberdades individuais”, afirma a RSF em carta enviada ao chefe de Estado. A organização solicitou ainda ao representante especial do secretário-geral da Nações Unidas, Lakhdar Brahimi, para que mobilize a comunidade internacional na defesa da liberdade de expressão no Afeganistão.

Partilhe