Dois anos de prisão para jornalista argelino

Mohamed Benchicou, editor do diário “Le Matin”, foi condenado a 14 de Junho por um tribunal argelino a dois anos de prisão e a uma coima no valor de cerca de 230 mil euros, por alegada violação às leis de câmbio de moeda.

Youssef Razzouj, do mesmo jornal, revelou ao Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) que o início deste caso teve lugar em Agosto de 2003, quando Mohamed Benchicou, de regresso à Argélia vindo de França, foi questionado pelas autoridades aeroportuárias acerca de notas de crédito que trazia consigo, o que constituía uma infracção às leis do país.

No entanto, o “Le Matin” e outro média privado argelino acusam o governo de abrir este processo contra Mohamed Benchicou para o punir por o seu jornal criticar com insistência o presidente Abdelaziz Bouteflika e outras autoridades.

Mohamed Benchicou – que em Fevereiro passado publicou uma polémica brochura intitulada “Bouteflika, Uma Fraude Argelina” – acusa o ministro do Interior, Yazid Zerhouni, de estar por detrás da perseguição que lhe é movida, já que o “Le Matin” divulgou, em 2003, que aquele governante esteve envolvido em torturas a detidos quando trabalhou para a segurança militar nos anos 70.

Desde que Mohamed Benchicou foi acusado, as autoridades policiais e os procuradores judiciais interrogaram diversas vezes o jornalista e outras pessoas da equipa do “Le Matin”, alegando que Benchicou difamara o governo.

Aliás, vários processos de difamação têm sido avançados contra a publicação que, em Agosto de 2003, integrou o lote de jornais privados críticos do governo que se viram confrontados com uma ordem de pagamento à gráfica estatal onde eram impressos, tendo três dias para acertar as contas se desejavam continuar a ver a luz do dia.

Sobretudo nas últimas semanas, as autoridades argelinas têm processado inúmeros jornalistas que denunciaram casos de corrupção e outras transgressões de governantes.

O CPJ exigiu já o fim desta campanha de perseguição aos média, apelo a que se juntou a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), que recordou a propósito a situação do activista humanitário Hafnaoui Ghoul, também repórter dos diários “El-Youm” e “Djazair News”.

Hafnaoui Ghoul foi detido em Maio por acusações de ultraje e difamação, após dar uma entrevista ao “Le Soir d’Algérie” sobre a situação dos direitos humanos na região de Djelfa, no Sul do país, e por ter divulgado que figuras políticas estavam a usar indevidamente fundos públicos.

Igualmente a Repórteres Sem Fronteiras se mostra escandalizada com a sentença a Mohamed Benchicou e sublinha que, há alguns meses, o presidente argelino comparou os jornalistas a “terroristas” e “mercenários”, acusando-o de prosseguir agora com a sua lógica repressiva e silenciadora da imprensa.

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