DISCURSO SOBRE A EUROPA NÃO PODE CENTRAR-SE NO INSTITUCIONAL

Revitalizar o discurso dos media sobre a Europa e o campo participativo, em detrimento do institucional e exigir aos media «padrões de exigência no controlo e na crítica das próprias políticas europeias, quando se distanciam do respeito pelos mais elementares preceitos da cidadania, foram algumas pistas deixadas por Francisco Rui Cádima, ao intervir na Conferência Europeia de Jornalistas sobre os Media e a Construção Europeia.

O segundo painel da conferência, que decorreu no sábado, 11 de Maio, no Hotel Altis, em Lisboa, tinha como tema «A Comunicação Social Portuguesa e a Europa». Francisco Rui Cádima, do Observatório da Comunicação (Obercom) e da Universidade Nova de Lisboa, apresentou uma análise do comportamento dos média portugueses face à Europa e um conjunto de observações sobre as estratégias de comunicação da Comissão Europeia. A partir destes elementos, gizou um conjunto de «prioridades a considerar pelos media sobre a temática europeia e uma síntese final onde defendeu a necessidade de a informação focar-se no «pragmatismo e eficácia dos objectivos que o cidadão possa sentir no dia-a-dia e não tanto na máquina política da União e das suas performances institucionais e burocráticas».

Para Francisco Rui Cádima, «enquanto o institucional ocupar o espaço público mediático como uma espécie de forum de legitimação permanente da União, tudo o resto fica secundarizado e o cidadão vulgar, porventura, não se reconhecerá nesse debate».

No plano das «grandes séries discursivas» identificadas na no modo como os média nacionais abordam a temática europeia, Francisco Rui Cádima destacou, entre outros aspectos, a «não identificação nas práticas jornalísticas e nas estratégias editoriais da ideia europeia no plano do “jornalismo de causas”», o predomínio de uma «visão instrumental/performativa» e da «actualidade-sintoma face à actualidade latente e à contextualização. O destaque dado às grandes questões político-económicas da agenda da União, em detrimento do «estudo de casos, da microanálise, do singular», a mediatização da experiência social através dos rituais de protesto, a ausência de temas relativos às mulheres e o alheamento da Imprensa regional foram outros dados identificados.

Para Francisco Rui Cádima, é necessário investir em estratégias informativas diferentes das actuais, o que começaria pelo assumir de «uma intencionalidade estratégica, cívica, social e cultural, no discurso mediático sobre a Europa» e da capacidade de serem os próprios media e não Bruxelas a determinar o «agenda setting» da integração europeia. Outras propostas são a transversalidade das temáticas europeias por todas as secções ediroriais, seguir a aplicação local dos mecanismos de apoio comunitário e acompanhar com regularidade, a interpetação da opinião pública, além do reforço da legitimidade do campo político através do debate e da opinião sobre a ideia europeia, e não através do protagonismo e notoriedade mediática dos actores.

Em relação às estratégias de comunicação comunitárias, Francisco Rui Cádima salientou o investimento nos «media, audiovisual e Net como opção estratégica da União Europeia, na perspectiva de uma liderança global na indústria de conteúdos», sublinhando a necessidade de uma optimização dos recursos on-line. Para o investigador, o fundamental é, seguindo uma ideia de Francisco Lucas Pires, «mediatizar a construção europeia “a partir de dentro”.

O encontro terminou com uma mesa-redonda sobre os media e a Europa, moderada por Teresa de Sousa, na qual participaram Andrea Freund, do «Frankfurter Allgemeine Zeitung», Bjorn Mansson, do «Hufvudstadsbladet», Daniel Riot, da «France 3», Dennis Abbot, do «European Voice» e Michel Theys, da Telé Bruxelles.

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