Desaparecimentos de jornalistas por investigar no México

Uma visita recente da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) ao México apurou que todas as investigações a desaparecimentos de jornalistas no estado de Michoacán estão paradas e que há pelo menos quatro casos por resolver, sendo o mais antigo de 2006.

O problema está no facto de o estado em causa não listar “desaparecimento” como crime, pelo que os casos estão a ser investigados como “privação ilegal de liberdade”, uma definição jurídica vaga que faz com que os processos saltem entre os vários departamentos locais e federais envolvidos.

O caso mais antigo é o de José Antonio García Apac, do semanário “Ecos de la Cuenca”, desaparecido desde 20 de Novembro de 2006 e que, segundo a família, tinha informações sobre conluios entre narcotraficantes e funcionários municipais e do estado de Michoacán, tendo tentado várias vezes alertar as autoridades federais para a situação antes de deixar de ser visto.

Sem progressos está também a investigação ao desaparecimento de Mauricio Estrada, repórter do diário “La Opinión de Apatzingán”, ocorrido a 12 de Fevereiro de 2008. As suspeitas recaem sobre narcotraficantes – na véspera o jornalista publicara um artigo sobre a detenção de um gang em Aguililla – mas também sobre “El Diablo”, um agente da força de combate ao narcotráfico com quem Estrada terá tido uma discussão e que foi transferido na véspera do desaparecimento.

Já no caso de Maria Esther Aguilar Cansimbe, de quem não há notícias desde 11 de Novembro de 2009, os principais suspeitos são um chefe de segurança pública e membros de cartéis cuja imagem não saíra bem vista em artigos escritos por esta experiente repórter que colaborava com várias publicações.

Por fim, já em 2010 há a registar o caso de Ramón Ángeles Zalpa, desaparecido desde 6 de Abril. Até ao momento, nenhum dos 18 procedimentos do gabinete do procurador-geral federal permitiu apurar o que se passou com o repórter do “El Cambio de Michoacán”.

De acordo com a RSF, nos últimos quatro anos foram mortas pelo menos 30 mil pessoas no México em virtude de guerras inter-cartéis e conflitos entre elementos do crime organizado e de forças governamentais. Dessas 30 mil, pelo menos 38 são jornalistas, escreve o sítio Saladeprensa.org, destacando que várias regiões do país estão sob o controlo dos narcotraficantes e não do Estado.

Como tal, não é de espantar que órgãos como o diário norte-americano “Los Angeles Times” enviem para o país correspondentes com experiência em cenários de guerra, os quais admitem que cobrir o que se passa no México é mais arriscado pois, enquanto as guerras têm regras que minimizam os riscos e o segredo é o jornalista antecipar-se às mudanças dessas normas, o mundo do narcotráfico não segue quaisquer regras.

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