Defesa do ambiente como compromisso ético e social

Os jornalistas devem assumir as questões da defesa do ambiente como um compromisso ético e social, no contexto da constante delapidação dos recursos naturais e da ruptura dos equilíbrios ecológicos, que é consequência do modelo de desenvolvimento neoliberal, afirma-se na declaração aprovada no final do VIII Encontro Iberoamericano de Jornalistas. O Sindicato dos Jornalitas esteve representado no Encontro por Martins Morim, vogal da direcção com o pelouro das Relações Internacionais.

O VII Encontro Iberoamericano de Jornalistas efectuou-se a 13 e 14 de Novembro em Santo Domingo, na República Dominicana, onde decorreu a XIII Cimeira de Chefes de Estado e de Governo iberoamericanos, com a presença de representantes de 20 organizações sindicais de Portugal, Espanha e de vários países da América Latina, que pertencem à Federação Latino-Americana de Jornalistas (FELAP).

O documento foi entregue aos Chefes de Estado e de Governo presentes na XIII Cimeira Iberoamericana.

No documento, os jornalistas criticam o papel negativo que os média têm vindo a desempenhar na situação actual, onde o modelo de desenvolvimento neoliberal gerou uma crise de governabilidade em muitos países do espaço latino-americano. “Os média perfilam-se como verdadeiros instrumentos de poder, desvirtuando a sua função social e obrigando os jornalistas a desempenhar as suas tarefas profissionais sob pressões coercivas”, lê-se na declaração final.

É o seguinte o texto integral da declaração aprovada no VIII Encontro Iberoamericano de Jornalistas:

VIII ENCONTRO IBERO-AMERICANO DE JORNALISTAS

“Exmos senhores Chefes de Estado e de Governo dos países da América Latina, Espanha e Portugal que participam na XIII Cimeira Ibero-Americana

“A Cimeira Mundial para o Desenvolvimento Sustentado, que decorreu em Joanesburgo, em princípios de Setembro deste ano, indicou dados concretos e considerações apontando a catástrofe a que conduzem o utilitarismo desmedido e a irracionalidade.

1. “Considerando que a deterioração do meio ambiente é palpável, que a devastação dos recursos naturais destrói o equilíbrio ecológico, em detrimento da qualidade de vida e do trabalho produtivo, diminuindo as possibilidades de uma melhor saúde, alimentação, educação, comunicação e informação.

2. “Considerando que a rapacidade económica debilita os Estados, em particular os menos desenvolvidos – mesmo se possuidores de recursos naturais que são considerados matéria-prima -, são os Estados mais evoluídos que conduzem o planeta a uma situação cada vez mais insustentável.

“Dois mil milhões de pessoas, ou seja, um terço de toda a Humanidade, vivem com menos de dois dólares por dia. Mil e cem milhões de pessoas não têm acesso a água potável – a substância indispensável à vida – , um milhão e 360 mil crianças de menos de cinco anos morreram em 2001, em consequência desta situação.

3. “Considerando que o turismo representa para muitos países uma importante fonte de trabalho, em sectores distintos da produção como os transportes, indústria hoteleira, restauração e alimentação. Que o desenvolvimento das tecnologias das comunicações e dos transportes, além do investimento na actividade turística, aproximaram os povos e que o turismo é um adversário natural da guerra e a guerra é um adversário natural do turismo.

4. “Considerando que o terrorismo, entre outras coisas, é um inimigo natural da actividade turística; que desde os atentados de 11 de Setembro o movimento turístico diminuiu, em consequência dos próprios atentados e da resposta – também terrorista – dos Estados Unidos, país que tomou medidas que violam as liberdades individuais e colectivas do estado de direito.

“As vinte organizações sindicais e profissionais de jornalistas, membros da FELAP, de Espanha e de Portugal, reunidas no VIII Encontro Iberoamericano de Jornalistas, em Santo Domingo, República Dominicana, nos dias 13 e 14 de Novembro de 2002

“Consideram que o meio ambiente não só é um tema prioritário da política e da economia, mas é também um assunto que requer um compromisso ético e social do jornalismo e dos jornalistas, ao nível da denúncia e no esforço para que seja compreendido pela população e pelos governos que estamos a cumprir o nosso dever profissional.

“Sustentam que o jornalismo turístico deve ser também um elemento cultural e económico do intercâmbio entre os povos, afirmando traços comuns entre as nossas culturas.

“Entendem os jornalistas que as questões enumeradas e outras referentes ao modelo económico, político e social, de carácter neoliberal, colocaram em crise a governabilidade da grande maioria dos nossos países. Neste contexto, os meios de comunicação desempenham um papel estratégico, em muitos casos, lamentavelmente, de forma negativa, para descrédito da política, que em certas situações causou danos graves a si próprias, devido à corrupção e à intriga entre certos dirigentes. As lutas políticas tendem a ser derimidas nos meios de comunicação e não na relação directa com o cidadão.

“Os média perfilam-se como verdadeiros instrumentos de poder, desvirtuando a sua função social e obrigando os jornalistas a desempenhar as suas tarefas profissionais sob pressões coercivas.

“O VIII Encontro de Jornalistas Iberoamericanos reclama dos Chefes de Estado e de Governo que estes países apliquem medidas de defesa do meio ambiente, dos recursos naturais e da liberdade de circulação das pessoas, contribuindo para garantir melhores condições de vida aos seus cidadãos. Em relação ao livre exercício da profissão de jornalista, devem garantir o direito de informação a todos os cidadãos. Consideram indispensável que os governantes dos países iberoamericanos renovem esforços na salvaguarda da integridade física e jurídico-legal dos jornalistas, petição que temos vindo a reiterar desde o I Encontro Iberoamericano de Jornalistas.”

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