Decisões de Sarkozy sobre TV pública criticadas

A nomeação da mulher do ministro dos Negócios Estrangeiros para a direcção do grupo internacional de média France Monde e a escolha dos membros que compõem a comissão que vai analisar o fim da publicidade na TV pública francesa são dois assuntos distintos

Em relação ao caso da France Monde, os sindicatos contestaram a decisão dizendo que o presidente “inicia as nomeações antes das reflexões”, tendo recebido o respaldo da Federação Europeia de Jornalistas (FEJ) que, embora não conteste o currículo de Christine Ockrent, não a considera a pessoa mais adequado para directora do grupo público internacional de média que irá incluir a France 24, a RFI e a TV5Monde.

Para a FEJ, é “inconcebível pedir à companheira do ministro dos Negócios Estrangeiros que lidere uma emissora pública global”, devido ao “evidente conflito de interesses e possível suspeição de interferência política, que prejudicará a credibilidade da estação. A radiodifusão para o estrangeiro não é um negócio de família”.

Sarkozy recua parcialmente sobre fim da publicidade

A nível interno, e depois da greve da semana passada, Nicolas Sarkozy recuou parcialmente acerca do fim da publicidade na televisão pública, passando para a comissão para uma nova televisão pública o ónus de decidir se os anúncios devem desaparecer totalmente no início de 2009 ou se devem ser progressivamente suprimidos, começando pelos períodos após as 20 horas.

A comissão deve ainda encontrar um “aglomerado de recursos” para compensar as perdas publicitárias, estando em cima da mesa possibilidades como contribuições das cadeias privadas que vão beneficiar de um aumento de receitas e taxas sobre operadores de telecomunicações.

A primeira reunião da comissão está agendada para 27 de Fevereiro, mas a polémica instalou-se logo no momento da instalação desta estrutura presidida por Jean-François Copé, líder do grupo parlamentar UMP, e que inclui outros deputados, profissionais do audiovisual e figuras da cultura.

Tudo porque os parlamentares socialistas boicotaram a cerimónia e decidiram não participar na comissão, em protesto pelo facto o chefe de Estado não os ter consultado nem informado da missão, da composição e do âmbito desta comissão e de os conselheiros de Sarkozy terem querido designar os representantes socialistas, algo que no entender do PSF cabia ao próprio partido.

Aparentemente menos tensa, depois do sucesso da greve da passada semana, está a relação entre a presidência e a intersindical do audiovisual, que foi recebida por Sarkozy antes da instalação da comissão, tendo o presidente garantido que o serviço público continuará a funcionar, que não será privatizado e que cada euro de receita publicitária perdida será compensado por um euro de dinheiros públicos.

O porta-voz dos sindicatos, Jean-François Téaldi, considerou que se está a ir no bom sentido, embora ainda haja arestas a limar. E, “para mostrar aos administradores do grupo público que estão sob vigilância”, os sindicatos apelaram aos trabalhadores para que se juntem a 27 de Fevereiro, antes do Conselho de Administração extraordinário agendado para esse dia.

Importação da ideia para Portugal?

Em Portugal, o fim da publicidade na televisão pública também tem vindo a ser sugerido pelos patrões da SIC e da TVI, que alegam que o mercado publicitário ficará demasiado pequeno quando surgir o quinto canal em sinal aberto, cujo concurso foi anunciado para breve pelo ministro Augusto Santos Silva.

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