Comissão Europeia levanta suspeições sobre jornalistas

Na sequência de um artigo do “Frankfurter Allgemeine Zeitung” que cita uma carta confidencial dos serviços de segurança da Comissão Europeia (CE) para o director de Recursos Humanos, a CE teme que os seus documentos estejam cada vez mais à mercê de espiões, dando a entender que os jornalistas fazem parte desse grupo.

“Não estamos apenas a apontar o dedo aos jornalistas. Pode muito bem ser a estagiária de pernas longas e cabelo louro”, afirmou Valerie Rampi, porta-voz da CE, organização que sublinha num memorando de Dezembro que “a ameaça de espionagem cresce de dia para dia” e “em vários países, lobistas, jornalistas, agências privadas e outros continuam a procurar informação sensível e secreta”.

Para a Federação Europeia de Jornalistas (FEJ) e para a Associação de Imprensa Internacional (API), que representa os correspondentes estrangeiros em Bruxelas, “este tipo de afirmações difama todos os que trabalham no jornalismo ao lançar uma nuvem de suspeição sobre eles”.

“As preocupações de segurança são uma coisa, mas este tipo de comentário coloca os jornalistas em risco e dificulta o seu trabalho de escrutinar funcionários públicos e o trabalho da Comissão. Os funcionários da União Europeia deveriam fazer o seu trabalho sem questionar indevidamente a honestidade e integridade dos correspondentes em Bruxelas”, afirmou o secretário-geral da FEJ, Aidan White.

Já o presidente da API, Lorenzo Consoli, lembrou à CE que “o jornalismo de investigação é de interesse público” e que “os jornalistas têm de procurar também documentos ‘sensíveis e secretos’ para informar o público e colocar a informação num contexto verdadeiro”, pois a formulação de perguntas e o acesso da imprensa a documentação é um elemento legítimo e essencial da democracia.

Aproveitando a ocasião, a FEJ recordou o fraco historial da Comissão Europeia no que concerne ao jornalismo de investigação, dando como exemplo o caso de Hans-Martin Tillack, jornalista que foi alvo de uma acusação falsa de suborno, da qual já foi ilibado em tribunal, mas que ainda não recebeu um pedido de desculpas oficial da CE, entidade de onde partiu a referida acusação.

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