Al-Jazeera impedida de cobrir peregrinação a Meca

O canal árabe Al-Jazeera foi proibido pela Arábia Saudita, a 26 de Janeiro, de fazer a cobertura da peregrinação a Meca. A proibição ocorre pelo terceiro ano consecutivo e vem na sequência de críticas ao canal, lançado no Qatar em 1996.

Desde o início de 2004 que a Al-Jazeera vem sendo duramente criticada pela Arábia Saudita e pelos Estados Unidos, além de ter sido censurada na Argélia, Irão, Tunísia e Canadá e ter visto as suas instalações em Bagdade encerradas por ordem do governo interino no Iraque.

As emissões do canal irritaram alguns líderes políticos por a Al-Jazeera dar também tempo de antena à oposição e ao público e por difundir temas políticos e sociais vistos como tabus.

A Repórteres Sem Fronteiras (RSF), denunciando a perseguição de que é alvo o canal, lamenta que “alguns governos não hesitem em censurar a Al-Jazeera para proteger os seus interesses políticos e diplomáticos, o que revela a sua intolerância às críticas”.

A organização apela também às autoridades interinas no Iraque para que cancelem a sua decisão de banir o canal e autorizem a reabertura das instalações da Al-Jazeera na capital, e recorda aos Estados Unidos que, ou se apressam a explicar por que razão têm Sami Al-Haj, operador de imagem daquela estação, detido em Guantanamo, ou devem libertá-lo de imediato.

No caso da Arábia Saudita, que não autoriza o canal a cobrir a peregrinação a Meca desde 2003, recusando todos os pedidos de acreditação dos jornalistas nesse sentido, a perseguição dever-se-á ao facto das autoridades não fazerem distinção entre a Al-Jazeera e o governo do Qatar, país com o qual a Arábia Saudita está em crise diplomática.

A Al-Jazeera está também bloqueada na Argélia desde Junho de 2004, sendo a primeira vez em dez anos que um canal estrangeiro é sujeito a tais medidas naquele país. De acordo com a RSF, as autoridades argelinas usaram o pretexto de uma reorganização do trabalho dos correspondentes estrangeiros, mas a verdade é que apenas televisão do Qatar foi afectada pelas mudanças.

Segundo várias fontes, a medida teve lugar após a estação emitir um debate sobre a Argélia em que figuras da oposição criticavam a política de reconciliação nacional do presidente Abdelaziz Bouteflika. Nesse programa, foram ainda revelados os resultados de uma sondagem segundo a qual 72 por cento dos telespectadores consideravam que a situação do país não apresentava melhoras.

Por seu lado, no Irão tiveram lugar várias ameaças de sanções às instalações do canal, designadamente quando, em Novembro de 2004, Teerão exigiu que o canal removesse do seu sítio na Internet um cartoon animado que considerava ofensivo, e quando a estação empregou o termo “Golfo Arábico” em vez de “Golfo Pérsico”.

Na Tunísia, as autoridades recusaram uma solicitação do canal para abrir novas instalações e acreditar os seus jornalistas e, em Outubro de 2004, quando a estação fez um pedido para poder acompanhar as eleições presidenciais, as autoridades responderam que só dariam a sua autorização se pudessem escolher qual o correspondente a enviar pela Al-Jazeera.

No Iraque, em Janeiro de 2004 o canal foi impedido de cobrir as actividades governamentais durante um mês, na sequência de uma emissão em que um dos participantes fazia acusações contra alguns líderes políticos, o que foi entendido como uma provocação. A redacção da Al-Jazeera em Bagdade veio a ser encerrada em Agosto de 2004, alegadamente para “proteger o povo iraquiano”, tendo o governo interino do país acusado o canal de “incitar ao ódio racial”. Em Novembro, as autoridades iraquianas chegaram mesmo a classificar o canal de “terrorista”.

No que se refere aos Estados Unidos, em Abril de 2004 acusaram a Al-Jazeera de encorajar o anti-americanismo pela forma como cobria a guerra no Iraque, apesar da estação sempre ter defendido a sua imparcialidade. Por outro lado, o operador de imagem Sami Al-Haj está detido pelas tropas norte-americanas desde o início de 2002 na base militar de Guantanamo, em Cuba, sem que a sua mulher tenha notícias dele e sem que sejam conhecidas as causas de tão prolongada detenção.

No Canadá, os problemas com a Al-Jazeera dizem respeito à difusão, já que a Comissão da Radiotelevisão e Telecomunicações Canadianas estipulou que os operadores têm de monitorizar as emissões do canal 24 horas por dia e os autorizou a modificarem ou cancelarem os programas a transmitir para “evitar a difusão de conteúdos ofensivos”.

Partilhe