Açores devem superar factores de divisionismo

Ao dar posse à primeira Direcção Regional dos Açores do Sindicato dos Jornalistas, em 28 de Maio de 2002, em Ponta Delgada, o presidente da Assembleia Geral em exercício, Acácio Barradas, aludiu à “necessidade de «superação de rivalidades entre ilhas, bem como de outros factores de divisionismo que possam enfraquecer a luta por direitos e objectivos comuns”.

É o seguinte o texto integral do discurso de Acácio Barradas, na tomada de posse da Direcção Regional dos Açores:

“Na ausência em Timor da jornalista Diana Andringa, presidente da Assembleia Geral do Sindicato dos Jornalistas, cumpre-me, como seu substituto, a honra de dar posse aos primeiros corpos gerentes da Direcção Regional dos Açores.

Em boa verdade, a lógica processual deveria ter sido outra. Caber-me-ia dar posse ao vice-presidente da Assembleia Geral representativo dos Açores, ao qual, por seu turno, competiria empossar os membros da Direcção. Infelizmente, tal não foi possível, mercê da circunstância do candidato eleito para aquele lugar ter renunciado ao cargo antes de tomar posse.

Consideremos, assim, para os devidos efeitos práticos, que o desempenho das funções de vice-presidente da Assembleia Geral do Sindicato dos Jornalistas ficará confiado, a partir de agora, à jornalista Margarida Pereira, na qualidade de substituta do candidato em questão.

Conforme foi tornado público, a renúncia de Estevão Gago da Câmara radica-se no facto de discordar das posições do Sindicato dos Jornalistas no respeitante à defesa do serviço público da RTP, perante a ofensiva do Governo no sentido de eliminar um dos canais, entre outras ameaças ao futuro da empresa e dos seus, trabalhadores.

Como é natural, o Sindicato dos Jornalistas reúne no seu seio milhares de associados cujas ideias e sensibilidades nem sempre afinam pelo mesmo diapasão, mas procura actuar em seu nome tendo em vista os princípios genericamente aceites como máximo denominador comum, com base nas leis em vigor, nos códigos e estatutos que se obrigou a cumprir e a fazer respeitar e nos programas de acção que apresentou e fez aprovar pelo Conselho Geral, pela Assembleia Geral ou mediante eleições.

Ao actuar de acordo com esses parâmetros, a Direcção do Sindicato dos Jornalistas considera estar legitimamente mandatada para intervir em situações que reclamem a sua tomada de posição, na certeza de interpretar correctamente o sentimento generalizado da classe, manifestado pela sua anuência a princípios anteriormente definidos numa vasta panóplia de documentos e por analogia com situações antecedentes. Nem de outro modo poderia deixar de ser, sob pena de se referendar caso a caso pela massa associativa, que assim seria constantemente chamada a pronunciar-se, sempre que se tornasse imperiosa qualquer tomada de posição. O que, sendo absurdo, seria um convite à inacção permanente e um atestado de inutilidade passado à Direcção.

No caso concreto da RTP, a Direcção do Sindicato há muito que assumiu pública posição, visto que já em Outubro de 2001 (ou seja, há mais de meio ano) divulgou uma Declaração Sobre o Serviço Público de Televisão, organizando em seu torno um debate em que participaram várias e qualificadas personalidades e para o qual convidou jornalistas das Regiões Autónomas, nomeadamente dos Açores.

Tendo por base aquele documento e as reacções que desencadeou, dentro e fora da classe dos jornalistas, a Direcção do Sindicato sentiu-se perfeitamente habilitada a enfrentar todas as situações que o chamado “caso RTP” suscitou posteriormente, sobretudo com as últimas e conhecidas acções empreendidas pelo Governo.

Ao demarcar-se das posições assumidas pela Direcção do Sindicato, Estevão Gago da Câmara não ponderou certamente a natureza democrática do procedimento que contesta, nem atendeu à sua legitimidade. Antes de procurar esclarecer-se junto da Direcção, preferiu apresentar a sua renúncia e fazer declarações à Agência Lusa. Se alguma coisa aqui não bate certo, por certo não será a conduta da Direcção do Sindicato.

Cumpre-nos esclarecer que, ainda esta madrugada, fizemos todos os esforços no sentido de demover Estevão Gago da Câmara da sua, a nosso ver precipitada, renúncia. Infelizmente não o conseguimos. Mas a sua presença nesta sala, que assinalamos e agradecemos, é um claro sinal de que, independentemente da posição que assumiu, as relações de camaradagem com os corpos gerentes do Sindicato não foram cortadas, deixando antever futuras possibilidades de cooperação. Assim o desejamos.

Com esta cerimónia, dá-se início a um novo ciclo da actividade dos jornalistas açorianos, que passam a dispor de um novo órgão de representação com capacidade de intervir a vários níveis no sentido da sua valorização profissional.

A criação de uma Direcção Regional dos Açores do Sindicato dos Jornalistas terá sido, sem dúvida, uma ideia que perpassou por muitos espíritos ao longo dos tempos. Mas só agora finalmente se concretiza, pela feliz convergência de esforços da Direcção nacional cessante, a que tive a honra de pertencer, e do bom acolhimento que a iniciativa mereceu de uma plêiade de jornalistas açorianos, que se dispuseram a arregaçar as mangas e a lançar mãos à obra.

O que aqui estamos a celebrar é como que o lançamento da primeira pedra de uma edificação que esperamos seja implantada em sólidas fundações e cuja estrutura desejamos ver erguer-se de forma segura e harmoniosa. Tudo depende, nesta primeira fase, da militância dos seus primeiros dirigentes, e da sua capacidade de atrair e mobilizar os potenciais associados que ainda não despertaram para as vantagens que o Sindicato lhes pode proporcionar, sobretudo se constituir uma força representativa em número e qualidade.

Com esse objectivo, torna-se indispensável enfrentar e vencer as dificuldades inerentes à descontinuidade geográfica dos Açores, nomeadamente pela superação de rivalidades entre ilhas, bem como de outros factores de divisionismo que possam enfraquecer a luta por direitos e objectivos comuns.

Na certeza de que tudo será feito para construir e preservar essa unidade, resta-me desejar aos empossados as maiores felicidades no exercício dos seus cargos, convicto de que, por parte da Direcção Nacional, lhes será facultado todo o apoio indispensável ao arranque da sua actividade, para que esta seja o mais fecunda possível.

Bom trabalho e boa sorte!”.

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