Governo etíope tenta censurar estação privada queniana

O governo etíope tentou forçar a estação de televisão queniana Nation Television (NTV) a deixar cair um conjunto de quatro reportagens exclusivas sobre os rebeldes da Frente de Libertação Oromo (FLO), que têm combatido pela autonomia do maior grupo étnico do Sul da Etiópia.

Contudo, a estação – que já exibiu metade da série – não pretende ceder às pressões, que também já vieram, em menor escala, do governo queniano, e garante que vai exibir o resto da reportagem, recusando as acusações do embaixador etíope no Quénia de que se está a proporcionar uma plataforma mediática a uma organização terrorista.

Segundo Joe Odindo, editor-executivo do grupo Nation Media, a pressão do governo do Quénia foi uma mera comunicação do desagrado que a reportagem causou junto do executivo do país vizinho e um pedido para que a posição da Etiópia fosse tida em conta no programa, o que levou a estação a oferecer ao embaixador etíope a possibilidade de uma grande entrevista no âmbito do programa, a qual foi recusada pelo diplomata.

Apesar desta atitude, a estação procedeu a um adiamento da emissão e reviu o programa, tendo Odindo afirmado que a NTV está “satisfeita com o facto de o programa ser equilibrado, completo e de terem sido feitos os possíveis para incluir o ponto de vista do governo etíope, apesar de o embaixador se ter recusado a dar o seu contributo”.

Recorde-se que nos últimos anos a administração etíope, cujos líderes foram em tempos guerrilheiros aliados da FLO, tem procurado censurar a cobertura internacional e nacional de grupos rebeldes, através de detenções e condenações judiciais de jornalistas por alegadas ligações a grupos terroristas.

Isto tem sido possível porque o país aprovou recentemente legislação anti-terrorista que dá ao governo amplos poderes para prender até 20 anos “quem escrever, editar, imprimir, publicar, publicitar, disseminar” declarações consideradas “encorajadoras, apoiantes ou defensoras” de actos terroristas.

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