Tentativas de condicionamento dos jornalistas preocupa CD

O Conselho Deontológico (CD) do Sindicato dos Jornalistas considera preocupante as tentativas de condicionamento dos jornalistas que se têm vindo a registar, quer restringindo o seu direito de acesso à informação quer descredibilizando o seu trabalho.

A propósito desta situação, o CD divulgou hoje, 29 de Janeiro, a Recomendação que a seguir se transcreve na íntegra.

A propósito das tentativas recentes de condicionamento dos jornalistas

O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas considera preocupante a forma como recentemente se têm multiplicado as tentativas de condicionamento dos jornalistas, quer restringindo o seu direito de acesso à informação quer descredibilizando o seu trabalho, apresentando, perante a opinião pública, os profissionais da informação como meros peões de interesses políticos ou de estratégias partidárias.

O Conselho Deontológico reitera que o jornalismo se faz com cumprimento escrupuloso das regras deontológicas, com responsabilidade e verdade, pelo que apela a todos os jornalistas que não se deixem intimidar por condicionamentos camuflados de regras, muitas das quais mais não pretendem que cercear a liberdade de informar e de acesso do público à verdade.

Recomenda-se, por isso, que os jornalistas denunciem e se solidarizem com os profissionais alvo de práticas destinadas a limitarem a sua actividade e considerem a explicitação, nos seus textos noticiosos, dos condicionamentos de que foram alvo como uma parte importante da informação que deve ser prestada ao público.

Do mesmo modo, as redacções devem adoptar medidas destinadas a contornar as limitações impostas à actividade dos seus jornalistas, como aconteceu no recente conflito israelo-palestiniano, em Gaza, através do recurso a fontes alternativas de informação.

Entre as diferentes formas de condicionamento recentes, o Conselho Deontológico destaca:

1) A desvalorização de notícias de interesse geral com a justificação da proximidade de actos eleitorais.

2) A desculpabilização dos insucessos políticos com o tratamento considerado menos adequado por parte da comunicação social.

3) Declarações, falsas e não fundamentadas, feitas contra jornalistas, acusados de fazerem notícias a mando de interesses políticos.

4) A imposição de acordos sobre o tipo de cobertura noticiosa a dar a determinados acontecimentos.

5) As tentativas de pressionar as redacções no sentido de excluir jornalistas indesejados de determinados serviços noticiosos de sua especialidade.

O clima de tensão política e social resultante da convergência da crise económica nacional e internacional e dos actos eleitorais que se avizinham é propício à multiplicação de atitudes como as acabadas de descrever.

No entanto, o Conselho Deontológico considera que estas atitudes são tanto mais graves e preocupantes quanto elas têm origem em pessoas com particulares responsabilidades na vigilância, preservação e dignificação dos princípios e dos valores que presidem ao funcionamento da democracia, nomeadamente o pluralismo e a liberdade de informação.

A situação presente recomenda que os jornalistas se unam em torno de objectivos comuns, como os valores e funções do jornalismo. Os jornalistas devem seguir a sua consciência e manterem-se leais, acima de tudo, aos leitores, ouvintes e telespectadores. Num tempo em que se anunciam dezenas de despedimentos de jornalistas e em que muitas outras centenas exercem a profissão em extrema precariedade é forçoso que se reiterem os princípios deontológicos e se concite ao reforço da solidariedade profissional.

Lisboa, 29 de Janeiro de 2009

O Conselho Deontológico

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