Repórter atira sapatos a Bush e recebe proposta de emprego

O repórter iraquiano Muntadar al-Zaidi, que a 14 de Dezembro atirou dois sapatos contra o presidente norte-americano George W. Bush e o insultou em plena conferência de imprensa, recebeu uma proposta de emprego da estação libanesa New TV, que se propõe pagar-lhe a partir do momento em que lançou o primeiro sapato.

O canal, conhecido pelas suas posições contra os EUA, está disposto a pagar a caução para a libertação do jornalista e a garantir as despesas com a defesa de Muntadar al-Zaidi, que foi detido por elementos dos serviços de segurança iraquianos e norte-americanos e se encontra sob custódia do exército iraquiano.

Centenas de pessoas saíram para a rua a exigir a libertação do jornalista e, apesar de a actuação deste ter sido mais enquanto cidadão do que como profissional, a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e o Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) já se pronunciaram sobre o caso.

A FIJ apelou à libertação de Muntadar al-Zaidi, sublinhando que a actuação simbólica do jornalista – mostrar as solas dos sapatos é uma forma de insulto no mundo árabe – “reflectia uma raiva profunda pelo tratamento dado aos civis iraquianos durante a ocupação norte-americana dos últimos quatro anos, nas quais os jornalistas foram grandes vítimas”.

Para a FIJ, não é coincidência que este protesto surja dias depois dos EUA se terem recusado a libertar um jornalista iraquiano, apesar das ordens nesse sentido de um tribunal local. “Quando os EUA parecem desafiar a lei no Iraque, não é de surpreender que os jornalistas procurem outras formas de protestar pela injustiça”, disse Aidan White, secretário-geral da FIJ, frisando contudo que a organização não aprova o acto.

A RSF também lamentou os métodos usados pelo jornalista da al-Bagdhadia e apelou à sua libertação “por motivos humanitários e para aliviar a tensão”, destacando que, ao abrigo da lei iraquiana, Muntadar al-Zaidi incorre numa pena de até sete anos de prisão por “insulto a um chefe de Estado estrangeiro”.

Já o CPJ sublinhou que o repórter iraquiano não estava a actuar como jornalista quando atirou os sapatos, pelo que este não é um caso de defesa de liberdade de imprensa. Todavia, revelou-se alarmado pelas ordens para desligar as câmaras enquanto Muntadar al-Zaidi era detido e por notícias de alegados ferimentos que este terá sofrido aquando da detenção.

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