Numa ação global sem precedentes, quase 200 órgãos de comunicação social de 50 países irão, em simultâneo, interromper as suas primeiras páginas, páginas iniciais e emissões para exigir o fim do assassinato de jornalistas em Gaza e o acesso da imprensa internacional ao enclave.
Pela primeira vez na história moderna, redações de todos os continentes irão coordenar um protesto editorial em larga escala. A ação – coordenada pela Repórteres Sem Fronteiras (RSF), pelo movimento global Avaaz e pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) – terá lugar na segunda-feira, 1 de setembro. Jornais impressos publicarão primeiras páginas a negro. Estações de rádio e televisão interromperão a programação com uma declaração conjunta. Meios digitais colocarão as suas páginas iniciais ou banners a negro em solidariedade. Editores, repórteres e outros jornalistas também irão participar.
A ação surge numa altura em que o número de jornalistas mortos em Gaza ultrapassa os 210 desde 7 de outubro de 2023 – o conflito mais letal para jornalistas na era moderna. Simultaneamente, Israel tem impedido a entrada de meios de comunicação estrangeiros em Gaza há quase dois anos, deixando apenas os jornalistas palestinianos a reportar sob fogo.
Thibaut Bruttin, Diretor-Geral da RSF, afirmou: “À velocidade a que os jornalistas estão a ser mortos em Gaza pelas FDI, em breve não restará ninguém para manter o mundo informado. Isto não é apenas uma guerra contra Gaza, é uma guerra contra o jornalismo em si. Os jornalistas estão a ser mortos, estão a ser visados, estão a ser difamados. Sem eles, quem falará da fome, quem denunciará crimes de guerra, quem revelará genocídios? Dez anos após a adoção unânime da Resolução 2222 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, estamos a testemunhar, perante os olhos do mundo inteiro, a erosão das garantias do direito internacional para a proteção dos jornalistas. A solidariedade dos meios de comunicação e dos jornalistas em todo o mundo é essencial. Devemos agradecê-la: é a fraternidade dos repórteres que salvará a liberdade de imprensa, a fraternidade que salvará a liberdade.”
Andrew Legon, Diretor de Campanha da Avaaz, declarou: “É muito claro que Gaza está a ser transformada num cemitério de jornalistas por uma razão. O governo de extrema-direita de Israel está a tentar concluir este trabalho na escuridão, sem o escrutínio da imprensa. Se as últimas testemunhas forem silenciadas, as mortes não irão parar – apenas deixarão de ser vistas. É por isso que hoje nos unimos a redações de todo o mundo para dizer: ‘Não podemos e não iremos deixar que isso aconteça!’”
Anthony Bellanger, Secretário-Geral da FIJ, acrescentou: “Cada jornalista morto em Gaza era colega, amigo ou familiar de alguém. Arriscaram tudo para contar a verdade ao mundo, e pagaram com a própria vida. O direito do público a ser informado foi profundamente afetado por esta guerra. Exigimos justiça e a adoção de uma Convenção Internacional das Nações Unidas sobre a segurança e independência dos jornalistas.”
Os ataques mais recentes contra jornalistas em Gaza ocorreram a 25 de agosto, quando forças israelitas bombardearam o complexo médico al-Nasser – um local conhecido como ponto de apoio a repórteres – matando cinco jornalistas, incluindo membros das equipas da Reuters e da Associated Press. Duas semanas antes, seis outros jornalistas foram mortos num único ataque, entre eles o correspondente da Al Jazeera, Anas al-Sharif.