Sofia Branco apanhada de surpresa pelo Prémio Natali

A jornalista Sofia Branco, do Publico.pt, foi galardoada com o Prémio Natali para a Europa pelo seu trabalho de investigação em torno da mutilação genital feminina praticada na comunidade guineense em Portugal, afirmando-se surprendida com a atribuição.

Em declarações ao Sítio do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco afirmou-se surpreendida com a atribuição do prémio, “sobretudo porque a reportagem estava escrita em português e tinha como concorrentes trabalhos em espanhol e em alemão, línguas com maior impacto na União Europeia”.

De acordo com a jornalista, o interesse pelo tema surgiu na sequência de uma conferência de imprensa realizada em Lisboa por uma portuguesa e uma guineense que ergueram vagamente o véu sobre a possibilidade da mutilação genital feminina ocorrer em Portugal.

“Ao ouvir a referência decidi investigar e, ao fim de dois meses e meio, embora não tenha assistido a nenhuma intervenção do género, fiquei com a convicção de que, de facto, a mutilação tem lugar entre as mulheres da comunidade guineense residente no nosso país”, adiantou Sofia Branco, para quem falta ainda “um debate sério sobre o assunto”.

Lamentando que a reacção de muitas pessoas seja ainda “eu não quero ver, eu não quero ter conhecimento disso”, a jornalista sublinha que “além dos direitos da mulher estão em causa os direitos da criança, pois as mulheres são excisadas bastante novas”, e assinala alguns passos em frente, como a 1ª Conferência sobre Mutilação Genital Feminina, agendada para dia 25 de Novembro.

O trabalho de Sofia Branco intitula-se “Mutilação Genital Feminina – O holocausto silencioso das mulheres a quem continuam a extrair o clítoris” e teve feroz competição por parte de um artigo alemão acerca das “pessoas-lixo” da Roménia, da autoria de Rolf Bauerdick, estando também na corrida a peça “Retrato das ONG”, da espanhola Sandra Camps.

O júri do Prémio Natali considerou a reportagem de Sofia Branco como um trabalho original e de importância universal, apoiado por uma pesquisa rigorosa e isenta e pelo talento narrativo da autora, que tenciona agora usar os dez mil euros do prémio na formação de uma associação de mulheres guineenses que, sendo contra a excisão, “têm dificuldade em se organizar para fazer ouvir a sua voz”, como declarou a repórter ao Sítio do Sindicato dos Jornalistas.

O trabalho, publicado em Agosto de 2002 na edição impressa do jornal Público e disponível na Internet em www.publico.pt, já obteve: o Prémio Mulher Reportagem Maria Lamas 2002; o Grande Prémio Imigração e Minorias Étnicas – jornalismo pela tolerância, do Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas; e uma menção honrosa no Prémio AMI – Jornalismo Contra a Indiferença.

Também galardoados com o Prémio Natali foram Walid Batrawi, da Palestina, pelo artigo “Media-less Reforms vs. Reform-less Media” (Médio Oriente); o paquistanês Massoud Ansari, com o trabalho “The Great Repatriation Scam” (Ásia e Pacífico); José Fernando Hoyos Estrada, da Colômbia, pela reportagem “¿Qué puedo hacer por Colombia?” (América Latina e Caraíbas); e o queniano Ken Opala, por “Death row convicts’ horrid lives” (África), trabalho que lhe valeu ainda a Medalha de Ouro, a distinção maior do Prémio Natali.

Instituído pela Federação Internacional de Jornalistas e pela Comissão Europeia em 1992, o galardão, que deve o seu nome ao antigo vice-presidente da Comissão Europeia Lorenzo Natali, visa distinguir trabalhos de qualidade no jornalismo impresso ou digital na área dos direitos humanos.

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