SJ repudia afirmações de director da RTP

A Direcção do Sindicato dos Jornalistas repudiou hoje, 4 de Novembro, recentes considerações do director de informação da RTP sobre avaliações de desempenho e rescisões de contratos de trabalho, que afectam a imagem e o prestígio dos jornalistas e outros trabalhadores na empresa.

Em comunicado, o SJ considera que os trabalhadores ao serviço da RTP são credores de uma retractação pública do director de informação da televisão pública. Mesmo que Paulo Ferreira estivesse a tecer considerações genéricas, não poderia ignorar o seu impacto no actual contexto de ataques sistemáticos à RTP e aos trabalhadores, acrescenta.

Comunicado

SJ repudia declarações do director de informação da RTP

1. O Sindicato dos Jornalistas tomou conhecimento de recentes declarações do Director de Informação (DI) da RTP sobre as avaliações de trabalhadores no sector público empresarial – que Paulo Ferreira confunde com função pública – e sobre as rescisões de contratos de trabalho.

2. Numa entrevista a uma publicação especializada em recursos humanos, Paulo Ferreira demonstra completo desconhecimento acerca dos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho em vigor na RTP, confundindo-os com “as regras da função pública”, mas não deixa de atacá-los, reclamando a sua “flexibilização”.

3. Na mesma entrevista, o director de informação da RTP considera desaconselhável a média de idades na Redacção, que diz ser de 40 anos, defendendo que esta deveria ser de 30, pelo que “tem de se fazer uma renovação grande”. Como se a RTP pudesse agravar a desastrosa erosão de memória e de experiência que a tem atacado, tal como à generalidade dos órgãos de informação.

4. Ao mesmo tempo, Paulo Ferreira insiste na bem conhecida rábula da “avaliação do mérito” para “premiar o desempenho dos melhores” e “separar o trigo do joio”, que é a desculpa usual para justificar avaliações “subjectivas”, arbitrárias e clandestinas.

5. Foi o que aconteceu com aquela que ele próprio insistiu recentemente em realizar, a mando da Administração, à revelia dos instrumentos em vigor e apesar de a negociação de um acordo de empresa contemplar esta matéria, e que levou a que a Redacção, em plenário recente, lhe retirasse a sua confiança.

6. Aliás, o SJ, como já o afirmou anteriormente, repudia a iniciativa da administração de pedir aos directores “uma análise dos perfis e competências” e a “apreciação do trabalho” das pessoas da sua direcção e lamenta que estes, incluindo o DI, se tenham prestado a fazer uma avaliação secreta, sem critérios claros e transparentes e sem sequer ouvir os alegadamente avaliados.

7. Numa mesa-redonda, na semana passada, sobre a “gestão de pessoas”, Paulo Ferreira, ainda que não se referisse especificamente à RTP, segundo veio garantir mas não resultava claro do texto publicado, pronunciou-se sobre as curvas de avaliação, considerando que os 40% de trabalhadores classificados com bom “são, na verdade, os maus”.

8. Paulo Ferreira não pode desconhecer que esta afirmação genérica, no quadro de uma cerimónia em que falava como Director de Informação da RTP, seria relacionada com estrutura que dirige na empresa. Desconhecemos em que se baseia o DI da televisão para produzir aquela afirmação, mas estranhamos tanta certeza, sobretudo num quadro de uma empresa que não permitiu o escrutínio da recente avaliação que fez para justificar a pretensa “mobilidade”.

9. Mais: uma pessoa que “gere pessoas” e que, além do mais, é o principal rosto da Redacção da RTP, deveria ter mais respeito pelos jornalistas que estão sob sua direcção e até pelo seu próprio cargo, quando, apesar do desânimo e desorientação que reina na empresa, estes profissionais são credores do respeito e da preferência do público.

10. O director de informação seja em que circunstância for, tem o dever de se conter nas palavras e não pronunciar juízos como aqueles, os quais, mesmo de forma “genérica” – o que curiosamente não impediu Paulo Ferreira de se referir muito em concreto à dispensa de mais de 300 pessoas da produção –, são sempre susceptíveis de projectar sobre os jornalistas e outros trabalhadores na RTP o grave efeito de desprestígio que geram publicamente.

11. O SJ considera igualmente grave que, mesmo falando “genericamente”, o director da RTP, especialmente no actual contexto de ataque sistemático à RTP e aos seus trabalhadores, venha alegar que nos processos de rescisão voluntária, “as pessoas que saem sejam geralmente do grupo das mais talentosas e com lugar no mercado de trabalho e que raramente sejam as menos capazes, que ficam nas empresas porque têm menos oportunidades externamente”.

12. Tais afirmações traduzem uma falta de respeito e consideração pelos trabalhadores que saem – seja porque receiam o futuro e cedem ao mal menor do desemprego; seja porque estão desencantadas com a empresa; seja porque legitimamente aproveitam a oportunidade para mudar de projecto de vida – e também pelos que ficam.

13. Os trabalhadores que ficam fazem-no porque estão no seu direito de continuar a trabalhar na empresa de que gostam, ou porque é aquela que, nas actuais circunstâncias, lhes dá a melhor satisfação pessoal, profissional e material, dimensões absolutamente legítimas que só por cinismo desumano se lhes poderia negar.

14. Manifestando a sua completa solidariedade para com os jornalistas e outros trabalhadores que legitimamente se sentiram ofendidos com aquelas palavras, a Direcção do SJ entende que todos os trabalhadores ao serviço da RTP são credores de uma retractação pública de Paulo Ferreira, cuja atitude merece público repúdio.

Lisboa, 4 de Novembro de 2013

A Direcção

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