O Sindicato dos Jornalistas (SJ) foi ouvido, esta sexta-feira, na Comissão de Cultura e Comunicação da Assembleia da República. Convocada pelo Bloco de Esquerda, a audição visou analisar a degradação laboral no Global Media Group (GMG), com atrasos nos pagamentos a colaboradores e a indefinição da estratégia após a entrada de Marco Galinha como acionista maioritário do grupo.
A comissão lamentou a ausência de Marco Galinha, presidente do conselho de administração do grupo, que detém títulos históricos como o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias, o diário desportivo O Jogo e a TSF, entre outros, nomeadamente várias revistas feitas quase em exclusivo com recurso a trabalhadores precários, cujos vencimentos têm sido pagos com sucessivos atrasos de há quase um ano a esta parte.
O Bloco de Esquerda, que agendou a audiência, recordou o histórico recente do grupo, considerando que várias administrações conduziram à situação atual, de lapidação de um património que é público, e sublinhou a necessidade de respeitar os direitos dos trabalhadores, condenando os atrasos verificados no pagamento de salários aos colaboradores.
O SJ lamentou também a ausência de Marco Galinha, sem surpresa, por considerar que está em linha com a tradição do GMG de falta de diálogo com os trabalhadores e seus representantes nos últimos seis anos, pelo menos. Recentemente, foram os diretores das várias publicações a comunicar aos jornalistas a adesão a um programa especial de apoio à retoma, cuja tramitação pressupunha a informação prévia aos delegados sindicais, que não chegou a acontecer. O GMG acabaria por recuar nesta decisão, sem explicar, para lá de qualquer dúvida, se o recuo se deveu a uma recuperação da atividade económica ou a fatores de outra ordem, que não foram revelados.
O SJ destacou a importância da comunicação social como um bem público, fundamental para a democracia, considerando que o Estado deve ter um papel primordial na regulação e na fiscalização, nomeadamente ao nível da idoneidade, transparência e capacidade financeira das pessoas que entram neste setor.
No dia em que a empresa regularizou a situação com alguns dos colaboradores que ainda tinham os vencimentos de março em atraso, o SJ expressou aos deputados a apreensão com as recentes ações de Marco Galinha, dono do grupo Bel, que detém, através da Páginas Civilizadas, 29,75% do GMG, tendo sido eleito presidente do conselho de administração do grupo a 17 de fevereiro.
Ao mesmo tempo que o empresário comprou a parte da Impresa na Vasp e na Lusa atrasou os pagamentos a pessoas fundamentais ao funcionamento dos títulos do grupo. Assim, ficamos sem perceber o que pretende exatamente o empresário para o futuro do grupo.
Os deputados exprimiram a disponibilidade para diligenciar, dentro das competências que lhes são conferidas, a clarificar esta situação, a bem do serviço público de informação e do respeito pelos direitos dos trabalhadores.