O Sindicato dos Jornalistas (SJ) tem recebido, nos últimos dias, várias denúncias de jornalistas de todo o país, que estão a ser impedidos de fazer o seu trabalho, por falta de colaboração das entidades oficiais.
Com a ativação dos planos municipais de emergência e proteção civil, muitos presidentes de câmara assumiram o comando das operações, numa lógica de vedar a informação, ou, nalguns casos, de escolher os jornalistas a quem facultam dados, numa violação clara da lei e do direito à informação.
Em Pombal, o presidente da câmara decidiu fazer um briefing diário com os órgãos locais, escolhendo apenas três jornalistas para as ‘entrevistas’ (como lhes chamou) – gravadas em vídeo e só mais tarde partilhadas com os restantes órgãos de informação locais e regionais. Entretanto, depois de alertado para a ilegalidade da decisão, acabou por convocar todos os jornalistas dos órgãos regionais e nacionais para conferências de imprensa via skype.
Em Ourém, quando confrontado pelos jornalistas com a necessidade de adoção de algumas medidas de segurança (distanciamento) nas conferências de imprensa semanais, o presidente da câmara decidiu simplesmente cancelar os encontros com jornalistas.
Em Leiria, o presidente da câmara optou por prescindir dos jornalistas, gerindo ele próprio a informação diretamente para as redes sociais.
Em Viana do Castelo, quando o JN reportou que não havia material de proteção no hospital, no dia seguinte os profissionais de saúde receberam um manual de boas práticas que inclui a suspensão de contactos com a comunicação social.
A ‘lei da rolha’ a que muitos jornalistas (da imprensa regional e correspondentes da imprensa nacional) foram votados nos últimos dias conheceu episódios diversos a norte (em Fafe), a sul (Faro) e no Oeste, com as entidades de saúde pública a colocarem uma espécie de garrote na divulgação da informação, centralizada na Direção-Geral da Saúde.
Vários jornalistas reportaram dificuldades em confirmar dados juntos dos serviços de saúde pública. Alguns chegaram a ser remetidos “para as conferências da DGS, já que tinham assim tanto interesse”.
Há ainda outra dificuldade apontada por vários jornalistas em diversos pontos do país: as reuniões de câmara, que, até aqui, eram abertas, vão ser feitas por videoconferência, mas sem que os jornalistas tenham acesso.
Convém lembrar que as reuniões das autarquias são tão importantes para a imprensa regional como as sessões do Parlamento são para a imprensa nacional, sendo, por isso, fundamental que os órgãos de informação continuem a assistir às mesmas, ainda que por videoconferência, sob pena de lhes ser claramente sonegado o direito à informação.
Os jornais, as rádios e as televisões regionais não podem ser meras caixas de ressonância dos órgãos locais. Em tempo de crise como o que atravessamos, é imperioso que os media existam para mostrar o retrato do país, e isso só se consegue com jornalismo.
O jornalismo faz-se com perguntas e não com comunicados em que apenas prevalece uma versão dos factos.