SJ declara luta ao Estatuto aprovado pelo PS

O Estatuto do Jornalista aprovado pelo PS é inaceitável, afirma o Sindicato dos Jornalistas (SJ) num comunicado em que anuncia ir pedir uma audiência com carácter de urgência ao Presidente da República e recorrer a todos os meios ao seu alcance para impedir os graves danos que o novo diploma pode causar à Democracia.

Segundo o comunicado do SJ, divulgado logo após a votação ocorrida esta tarde no Parlamento, este é um dia “dos mais negros na história do Jornalismo do pós-25 de Abril”, já que o novo Estatuto – aprovado apenas com os votos do PS – reduz direitos e garantias aos jornalistas, põe em causa a protecção das fontes, atenta contra a autonomia editorial e independência dos profissionais dos média e consagra o esbulho dos direitos de autor dos jornalistas.

O SJ anuncia ainda que vai solicitar ao Presidente da República que não promulgue o diploma, e afirma a disposição de “recorrer a todas as formas de luta e a todas as instâncias nacionais e internacionais para impedir os graves danos que este Estatuto pode causar à Democracia”.

É o seguinte o texto, na íntegra, do comunicado do SJ:

Estatuto do Jornalista aprovado pelo PS é inaceitável

1. A maioria parlamentar socialista aprovou hoje, sozinha, a revisão do Estatuto do Jornalista, marcando este dia como um dos mais negros na história do Jornalismo do pós-25 de Abril, tendo em conta a diminuição de direitos e garantias dos jornalistas e a legalização da apropriação ilegítima dos seus direitos de autor.

2. Apesar de sucessivos apelos, incansáveis iniciativas e documentos de esclarecimento e de aviso para os graves erros e riscos contidos na Proposta de Lei do Governo e nas propostas do Partido Socialista, o executivo e a maioria foram insensíveis aos argumentos e posições do Sindicato dos Jornalistas. Mas também foram incapazes de gerar um Estatuto consensual (até no Parlamento), no qual os jornalistas portugueses se revissem e reconhecessem como instrumento legal fundador de um jornalismo mais livre e mais responsável.

3. O Estatuto aprovado não garante mais a protecção do sigilo profissional dos jornalistas. Pelo contrário, diminui tais garantias, ao elencar um conjunto de circunstâncias em que esse direito-dever pode ceder, bastando aos tribunais invocar dificuldade em obter por outro meio informações relevantes para a investigação de certos crimes. Assim, os jornalistas enfrentarão maior resistência de fontes confidenciais que poderiam auxiliar a sua investigação de fenómenos como o tráfico de droga e até, como se insinuou nos debates, de corrupção, entre outros crimes que os profissionais da informação têm o direito e o dever de investigar e denunciar.

4. A falta de garantias de autonomia editorial e de independência e os riscos deontológicos criados pelo novo Estatuto comprometem a aceitação, pelos jornalistas, de um regime disciplinar que é injusto porque aplicável num contexto de fragilidade, no qual não estão em plenas condições de assumir livremente as suas responsabilidades.

5. O Estatuto aprovado não cria condições para uma efectiva autonomia editorial e independência dos jornalistas, antes as agrava, fragilizando ainda mais a posição destes profissionais face ao poder das empresas.

6. É o caso do direito de autor dos jornalistas. Apesar do compromisso de o regulamentar e não obstante os dois primeiros anteprojectos de proposta de Lei consagrarem a sua protecção, o Governo recuou e entrega de mão-beijada às empresas e aos grupos económicos o que não pode entregar: a reutilização arbitrária e totalmente livre de quaisquer custos, nos primeiros trinta dias, dos trabalhos dos jornalistas assalariados.

7. O que está em causa não é apenas o direito legítimo do jornalista de decidir sobre o destino dos seus trabalhos e de auferir uma retribuição adicional por tal reutilização, que com este diploma fica inviabilizado. É também o risco de violação da integridade das criações, de empobrecimento da informação e de diminuição da sua diversidade, bem como de ameaça ao pluralismo. E é também o risco de, mais tarde ou mais cedo, virmos a assistir a drásticas reduções de postos de trabalho.

8. As condições em que a revisão do Estatuto foi aprovada demonstram que o PS não foi capaz de honrar o mérito da aprovação por unanimidade da versão que ainda se encontra em vigor – feito histórico elogiado além-fronteiras – e que claudicou nas suas próprias convicções em matérias como o direito de autor, renunciando às suas propostas e cedendo em toda a linha aos interesses das empresas. Entre outros aspectos, não só não garante medidas contra a precarização, como impõe aos jornalistas a obrigação de demonstrar a discordância relativamente à orientação de publicações nas quais a empresa pretenda republicar os seus trabalhos.

9. O Estatuto hoje aprovado pela maioria parlamentar não pode ser aceite e o Sindicato dos Jornalistas vai continuar a combater por todos os meios ao seu alcance para corrigir o que é um erro histórico do Governo e do Partido Socialista. Amanhã, o vai requerer ao Presidente da República uma audiência urgente, a fim de solicitar-lhe que não promulgue o diploma. E não hesitará em recorrer a todas as formas de luta e a todas as instâncias nacionais e internacionais para impedir os graves danos que este Estatuto pode causar à Democracia.

Lisboa, 21 de Junho de 2007

A Direcção

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