Sindicato dos Jornalistas responsabiliza Luís Delgado pelo pedido de insolvência da TiN

O Sindicato dos Jornalistas responsabiliza o sócio único e gerente da Trust in News (TiN), Luís Delgado, pela situação a que chegou o grupo, que culmina, esta semana, com o pedido de liquidação imediata da empresa dona de títulos históricos da Comunicação Social Portuguesa, como as revistas “Visão”, “Exame”, “Caras” e o quinzenário “Jornal de Letras”. Claramente, Delgado reprovou no exame.

Luís Delgado comprometeu-se, há meses, a injetar dinheiro na TiN para manter o grupo vivo. Não só não o fez, como não dá mostras de o fazer, deixando a empresa arrastar-se num limbo que não só atirou largas dezenas de trabalhadores para uma situação de desespero, de incerteza nos salários e futuro sombrio, como deteriorou a imagem e a credibilidade dos títulos da empresa. O incumprimento de Luís Delgado levou a TiN ao limite. Continua por pagar metade do salário de maio, mais o salário de junho, dois subsídios de refeição e subsídio de férias a muitos trabalhadores que já foram ou irão de férias no presente mês. No fim do mês de junho, o problema escalou, em resultado da falha do pagamento, até dia 30, da totalidade dos impostos, contribuições, prestações da dívida, com o administrador judicial da insolvência a solicitar aos credores autorização para encerrar a empresa e proceder ao despedimento coletivo de todos os trabalhadores.

Ao fim de 10 dias de uma greve por tempo indeterminado, e perante a incerteza relativamente ao futuro que os espera, muitos dos trabalhadores da TiN estão a entregar um pré-aviso para a suspensão dos seus contratos de trabalho, de forma a poderem aceder ao subsídio de desemprego e garantirem a subsistência. Títulos emblemáticos deste grupo de comunicação social já estão, ou poderão ficar, nos próximos dias, sem um único jornalista a trabalhar, acentuando o despedimento silencioso que ocorreu no grupo, com as saídas de dezenas de jornalistas nos últimos meses, cansados dos atrasos nos salários, com dificuldades em fazer face às despesas e saturados de falsas promessas.

Na quarta-feira, e pela segunda semana consecutiva, a Caras, uma das revistas do grupo, falhou o dia habitual de chegada às bancas em resultado da greve de trabalhadores da TiN. A edição que só hoje está nas bancas dá aos leitores republicações de matérias que saíram nos últimos meses, na prática uma colagem de três secções: Viagens, Culinária e Beleza, não seguindo o padrão da CARAS que se dedica a Pessoas e Celebridades. Grave também é o facto de, conforme o timing em que a edição foi produzida, muito provavelmente, não ter sido pedida autorização à casa mãe na Argentina para esta “edição especial”. Na semana passada, foi publicada com um número de páginas inferior ao habitual, tendo o mesmo sucedido com a revista Visão.

O Sindicato dos Jornalistas entende que é hora de os trabalhadores da TiN serem protegidos e se muitos deles estão a suspender os contratos de trabalho por manifesto desespero, a empresa deve dar um sinal e cumprir com a mais básica das obrigações que é o pagamento de salários e subsídios, de férias e de alimentação. Desde novembro de 2023 que a TiN deixou de pagar salários atempadamente aos seus trabalhadores.

Quem não cumpre com o básico não pode esperar outra coisa que não seja uma séria luta pelas mais elementares condições de trabalho. Os jornalistas e demais trabalhadores da TiN nunca falharam à empresa. É hora de os administradores pagarem o que devem e dessa forma garantirem o normal funcionamento de um grupo dono de muitos órgãos de referência na comunicação social portuguesa.

Em maio, no decorrer de um processo de insolvência, os credores aprovaram um plano de recuperação, apresentado pelo sócio único, Luís Delgado, que assenta numa injeção de capital de até 1,5 milhões de euros para estabilizar a tesouraria da empresa. Refugiando-se no facto de o plano ainda não ter sido homologado pelo tribunal, Luís Delgado parece ter o entendimento de que salários dos trabalhadores, impostos do Estado e dívida dos credores não são razões suficientes para proceder à injeção de dinheiro com que se comprometeu.

Em dezembro, quando foi declarada a insolvência, os trabalhadores da TiN exigiram que, em vez de um encerramento abrupto, se fizesse uma liquidação controlada da empresa, de modo a poder salvaguardar a venda dos títulos e a manutenção dos postos de trabalho. Hoje, como em dezembro, continua a ser essa a reivindicação dos trabalhadores

Relembramos que hoje, às 18 horas, desafiamos todas as pessoas que trabalham nas redações deste país a pararem dez minutos, ou cinco, o tempo de um café em frente ao local de trabalho e a manifestar solidariedade aos nossos camaradas da TiN. Uma foto, um vídeo, um cartaz, uma mensagem de apoio podem significar muito para quem está nesta luta tão dura, tão difícil, mas tão justa e que nos enobrece a todos.

Vamos dar a cara, vamos mostrar visão, deixar-nos de letras e telenovelas e demonstrar o nosso apoio a estas pessoas e dizer ao país que o jornalismo está vivo.

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