SJ condena “empurrão” para saídas “voluntárias” no Global Media Group

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) condena veementemente a ameaça velada de despedimento feita pela administração do Global Media Group (GMG), vertida numa proposta de “rescisões amigáveis” enviada aos trabalhadores das várias empresas do grupo, na sexta-feira ao início da noite. Uma comunicação que representa um grave e lamentável desinvestimento nas várias empresas do grupo, em que se incluem títulos como a TSF, o “Jornal de Notícias”, o “Diário de Notícias” ou o jornal desportivo “O Jogo”.

A abertura de um programa de rescisões amigáveis por mútuo acordo – canto da sereia para aqueles em situação de maior desespero nas empresas daquele grupo, seja pelos baixos salários, com muitos jovens licenciados ou com mestrados a ganharem o salário mínimo nacional, seja pela falta de progressão nas carreiras em mais de 15 anos ou pelo natural stresse psicológico decorrente das incertezas em torno do grupo nos últimos anos – não passa de uma ameaça velada de despedimento, que o SJ considera inaceitável e injustificável.

Conforme se percebe pelo documento, em caso de não adesão voluntária, os trabalhadores podem vir a ser abrangidos por “qualquer medida de reestruturação sujeita a um regime menos favorável” no futuro: ou seja, saem agora com um bónus de 10% sobre o mínimo legal em caso de despedimento coletivo ou saem a mal depois.

O SJ tem motivos para não acreditar na promessa da administração liderada por Marco Galinha de apenas aceder a pedidos de saída nos casos em possam ser substituídos internamente ou não sejam necessários. Algo que se nos afigura impraticável num grupo em cujas as empresas, em todos os setores, estão completamente depauperadas fruto de “remodelações”, saídas e despedimentos nos últimos anos, já com défice de pessoas em relação aos mínimos necessários.

Em 2020, foi efetuada no grupo uma reestruturação (mais uma) que se traduziu num despedimento coletivo de 81 trabalhadores, entre os quais 17 jornalistas. Desde aí tem havido saída de trabalhadores por sua livre vontade, o que fez diminuir a despesa. A tudo isto, acrescenta-se que não houve substituições, exceto a contratação a termo de jovens através de estágios profissionais do Instituto do Emprego e Formação Profissional que, como se sabe, têm vencimento comparticipados.

As saídas, nos vários órgãos do grupo, nomeadamente de jornalistas com muitos anos de experiência, por isso um capital de importância inestimável para as redações, não só não foram preenchidas convenientemente como se prolongou a precarização e alastraram os baixos salários. O que prova, entende o SJ, enganosa a posição do grupo liderado por Marco Galinha de apenas aceitar rescisões de pessoas que forem consideradas “substituíveis”.

A ameaça velada contida na proposta do GMG representa a continuação da gestão de corte nas redações, o que é inaceitável para o Sindicato dos Jornalistas. O SJ lembra que o Global Media teve uma subida de 9% nas vendas no ano passado, face a 2020, no valor de 35 milhões de euros, assente no esforço e no contributo dos trabalhadores. E é graças a esse inestimável esforço dos jornalistas que o online do GMG apresenta excelentes resultados este ano, traduzidos no aumento de leitores e de prestígio, conforme anunciado publicamente em junho. Da mesma forma que foi noticiado, em maio, que a rádio do grupo, a TSF, obtivera a melhor audiência dos últimos dois anos.

O SJ questiona também o motivo invocado para justificar este “caminho de saída”. A guerra na Ucrânia tem impacto em todos, empresas e famílias, patrões e trabalhadores, e não parece a este Sindicato que as dificuldades sejam ultrapassadas com mais cortes do quadro de pessoal. Esta opção não passa de uma proposta de panaceia para todos os males.

O SJ lembra que este grupo tem sido alvo, ao longo dos tempos, de vários despedimentos coletivos e reestruturações e pelo que se vê nenhum resolveu os problemas financeiros, contribuindo apenas para criar dificuldades aos jornalistas no trabalho que apresentam diariamente aos leitores e aos ouvintes.

O GMG está a condenar à morte lenta e dolorosa na praça pública dos seus próprios títulos, entre eles o JN, o DN, “O Jogo” e a TSF, ao continuar a optar por descartar trabalhadores, ano após ano, como se fosse possível fazer jornalismo sem jornalistas.

O SJ lamenta ainda que esta administração nunca tenha aceitado reunir com a direção desta estrutura sindical. A postura avessa ao diálogo e a continuação de uma política de redução das redações faz temer o pior no GMG e exige uma resposta, também do Governo, que tem primado por ignorar, ano após ano, os problemas na Comunicação Social em Portugal, como prova o facto de esta área ter sido a única que não teve qualquer apoio direto do Estado durante a pandemia ou na fase de recuperação que se desejava a seguir e foi interrompida pela guerra na Ucrânia.

Ademais, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, ainda não teve tempo na agenda para receber o SJ e tomar conhecimento das dificuldades que enfrenta a Comunicação Social em Portugal e da urgência de medidas necessárias para salvar o jornalismo. Em lamentável alinhamento, diga-se, com o que aconteceu com a antecessora na pasta, Graça Fonseca, que nem num fim de tarde encontrou tempo para receber o sindicato durante todo o mandato.

O SJ está solidário com os trabalhadores do GMG e está disponível para o apoio que vier a ser necessário e vai enviar novo pedido de reunião, mais um, à administração do grupo governado por Marco Galinha.

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