O livro “Ser jornalista em Portugal – perfis sociológicos”, fruto de uma longa investigação realizada sob a égide da Fundação para a Ciência e a Tecnologia e graças a um protocolo celebrado com o Sindicato de Jornalistas, é lançado no dia 7 de Julho, às 18.30 horas, no anfiteatro B204, do edifício II do ISCTE-IUL, na Av. das Forças Armadas, em Lisboa.
Editado pela Gradiva, com 950 páginas, o livro em referência contem aspectos fundamentais – tanto quantitativos como qualitativos – para o melhor conhecimento da profissão. Coordenado pelo Prof. José Rebelo, o estudo foi levado a cabo por uma equipa de 12 investigadores do CIES-IUL e teve a colaboração do Sindicato dos Jornalistas, que cedeu um espaço para trabalho da equipa e facultou o acesso aos seus arquivos, bem como da Comissão da Carteira Profissional de Jornalista, que permitiu o acesso à sua base de dados com actualização até Dezembro de 2009.
A vertente quantitativa trata extensivamente os dados sociográficos da totalidade do universo dos jornalistas portugueses; a qualitativa reúne 47 entrevistas em profundidade, com outros tantos jornalistas escolhidos de acordo com perfis sociológicos pré-definidos.
Três perfis-tipo
Segundo o Prof. José Rebelo, o estudo revelou a existência de três perfis-tipo de jornalistas. O Perfil 1, com 3056 profissionais, é o dos que entraram na profissão há mais tempo (83% antes de 1976). À data do estudo, a maioria situava-se na faixa etária dos 40 aos 49 anos, são menos escolarizados e possuem carteira profissional de jornalista. É neste perfil que se encontram mais de metade dos jornalistas com funções de editor/chefe de Redacção (53,2%) e de Direcção (80,3%). O Perfil 2, com 3259 jornalistas, inclui os que entraram na profissão entre 1977 e 1986 (quase 90%), a maioria dos quais com idades compreendidas entre os 30 e 39 anos. São titulares de um diploma de Ensino Superior e têm carteira profissional de jornalista. Cerca de 45% dos jornalistas com funções de editor/chefe de Redacção, encontram-se neste perfil. Finalmente, o Perfil 3, com 1087 jornalistas, dos quais 1082 entraram na profissão depois de 1986, a maioria com 18 a 29 anos de idade. Com formação superior, apenas 47% possuem carteira profissional e só excepcionalmente exercem cargos de responsabilidade.
Para o coordenador do estudo, tais representações constituem o ponto de chegada das profundas modificações verificadas neste sector, ao longo do último quarto de século, período que pode dividir-se em duas fases praticamente iguais. A primeira, até finais dos anos noventa, é uma fase de expansão. A segunda, é uma fase de recessão.
A evolução do número de jornalistas acreditados pela Comissão da Carteira Profissional corrobora essa realidade: de 1998 a 2004, o crescimento médio situou-se em 517 jornalistas por ano; de 2004 a 2006 o sector entrou praticamente em estagnação, com um saldo médio anual de apenas 26 jornalistas a mais. E de 2006 a 2009 registou-se, pela primeira vez, um saldo anual negativo: 7402 jornalistas em 2006 e 6917 em 2009.
Em progressão, no período de 2004 a 2009, esteve a taxa de estagiários (a maior parte das vezes não pagos) nas empresas de comunicação: em 2004, os estagiários com Carteira Profissional representavam 5,4% dos jornalistas devidamente acreditados; em 2006, a proporção subia para 7,5%; e, em 2009, para 9,2%.
A feminização da profissão em Portugal
O estudo revela igualmente a crescente feminização do jornalismo em Portugal. Segundo os dados apurados, a proporção de mulheres no total dos jornalistas portugueses ultrapassava, em 2009, ligeiramente, os 40%. Mas nas faixas etárias mais jovens, dos 20 aos 24 anos e dos 25 aos 29, as mulheres eram já maioritárias (59,5% e 61,7%, respectivamente), o que segundo José Rebelo deixa prever uma prevalência absoluta do género feminino a curto/médio prazo. Esta tendência está no entanto longe de se reflectir no respeitante ao preenchimento de cargos de chefia, pois segundo os últimos dados conhecidos as mulheres são metade dos homens na categoria dos editores e menos de um quarto na categoria dos coordenadores/directores. A explicação do facto, admite José Rebelo, pode estar, para além da segregação por género, na tendência registada em vários países de as chefias serem preferencialmente escolhidas nas faixas etárias mais velhas.
Histórias de vida
A segunda parte do livro, com 47 entrevistas, procura responder à questão: quem são, afinal, os jornalistas portugueses?
Através das histórias de vida dos entrevistados – escolhidos em função de um conjunto de perfis-tipo previamente traçados – procura-se esclarecer, segundo José Rebelo, questões como: Qual a origem social dos jornalistas portugueses? Quais as estratégias de promoção social que desenham, num mercado particularmente saturado? Como visualizam a sua profissão? E o futuro desta? Como gerem as relações hierárquicas, ou como lidam com a hierarquia no interior das empresas onde trabalham? E as relações com os “colegas de ofício”? Quais as normas, ético-deontológicas, que perfilham? Como se posicionam face à política? E face à religião?
“Ser jornalista em Portugal” é fruto de cinco anos de trabalho sociológico.