Semanário sérvio encerra após pressões políticas e económicas

Vukasin Obradovic, fundador e diretor do “Vranjske novine”, revelou que as perseguições existem desde o número inaugural, em 1994, devido às denúncias sobre abuso de poder, casos de corrupção e de crime organizado. FEJ e FIJ manifestaram solidariedade.

“Intensas pressões políticas e económicas, incluindo inspeções às contas para colocar em causa as fontes de financiamento” foram as razões apresentadas por Vukasin Obradovic, fundador e diretor do semanário sérvio “Vranjske novine”, para a decisão de encerrar a publicação. A Federação Europeia de Jornalistas (FEJ) e a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) já manifestaram solidariedade com Obradovic, várias vezes distinguido pelo seu trabalho de investigação, condenando a opressão sofrida por media e jornalistas na Sérvia.

Mogens Blicher Bjerregard (FEJ) e Philippe Leruth (FIJ) foram taxativos sobre este assunto. “Estas notícias preocupantes registam-se em simultâneo com outros casos de intimidação a jornalistas de investigação. O governo sérvio deveria deixar bem claro que as leis estão a ser aplicadas e que todos os media e jornalistas são tratados por igual. Apelamos, por isso, às autoridades para que condenem publicamente as recentes ameaças à liberdade de imprensa e os ataques à integridade jornalística”, defendeu o presidente da FEJ.

Para Leruth, “os ataques continuados ao Vranjske novine constituem um escândalo em relação à democracia na Sérvia. Não se pode tolerar que um respeitado semanário esteja sob constante escrutínio e intimidação porque levanta questões ao cumprir o seu papel de informar o povo sérvio. É preciso que o governo tudo faça para assegurar uma imprensa livre e independente no país”.

Relata a FIJ que, segundo a Associação Independente de Jornalistas (NUNS), a publicação foi alvo de pressões desde o seu número inaugural, em 1994. Conhecidos por denunciarem casos de abuso de poder por parte de organismos estatais, corrupção e crime organizado, Obradovic, os companheiros de redação e respetivas famílias foram submetidos a “sucessivas perseguições sob a forma de ameaças, assaltos, destruição de veículos e inspeções de caráter financeiro, estas últimas agravadas este ano, levando ao sufoco do jornal”.

Um dos casos mais recentes surgiu no início deste mês, depois de o jornal publicar uma entrevista com um ex-responsável pela Autoridade Tributária – pouco depois disso, Vukasin Obradovic foi avisado por uma fonte acerca de uma nova inspeção financeira iminente, apenas com o intuito de intimidar os responsáveis pela publicação, algo que viria a concretizar-se.

Depois disto, Obradovic divulgou uma carta aberta na qual questionava as autoridades fiscais sobre a situação. “Temos agido sempre dentro da lei, pagando os impostos nos prazos devidos. Sempre respeitámos as decisões e as inspeções das autoridades fiscais, seguindo as suas recomendações e determinações sem qualquer interferência”, escreveu.

Várias organizações de jornalistas e media denunciaram, por outro lado, que o governo sérvio desencadeou “uma nova ofensiva de opressão contra a liberdade dos media e a independência dos jornalistas, visando cancelar o seu papel de vigilância e silenciar qualquer opinião independente”. Neste sentido, as entidades dirigiram um apelo “aos cidadãos e a organizações não governamentais” com o intuito de “adotarem um papel ativo na defesa da liberdade de imprensa e de expressão”, alargando esse apelo a “organizações internacionais para que deixem de ignorar as ameaças que media e jornalistas estão a enfrentar na Sérvia”.

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