“Se a imprensa tivesse feito o seu trabalho, não teria havido guerra”

Na primeira sessão plenária do Congresso da FIJ em Atenas, a 26 de Maio, a tarde foi dedicada ao debate “Os Média e a Guerra – A Batalha pela Segurança e Qualidade”, onde, numa intervenção acutilante, o jornalista e autor John Pilger disse que “se a imprensa tivesse feito o seu trabalho, não teria havido guerra” no Iraque.

Questionando a actuação dos jornalistas no tratamento dado à Guerra no Iraque, John Pilger criticou o silenciamento das mentiras e contradições da administração Bush – salvo algumas excepções – dizendo que tal postura permitiu a amplificação das manipulações e das mentiras, em vez da sua contestação.

“Os jornalistas nunca foram neutrais”, afirmou o jornalista, que considera que a situação actual é mais grave, pois agora “são os nossos governos, os exércitos dos nossos países que nos estão a matar”, dando o exemplo da Al-Jazeera, que forneceu as coordenadas de todo o seu pessoal no Afeganistão ao Pentágono e acabou por ver as suas instalações bombardeadas e os seus profissionais transformados em alvos.

Mais suave nas críticas, mas partilhando de algumas das opiniões de John Pilger, o director da CNN Chris Cramer considera que, actualmente, “os jornalistas são alvos deliberados, já não são vítimas colaterais”, frisando que existe uma hipótese em cem de um repórter ser morto no Iraque, enquanto um soldado dos EUA tem uma em mil.

Recordando que já morreram pelo menos 43 jornalistas e profissionais dos média no Iraque desde Março de 2003, Chris Cramer destacou pela positiva a cooperação inédita entre órgãos de comunicação, que puseram de parte as divergências comerciais em nome da segurança do seu pessoal no terreno.

Fora deste esquema de protecção ficam, no entanto, os jornalistas freelance, que “nunca estão seguros numa zona de guerra”, pois não possuem as condições de protecção das grandes organizações de média, como recordou Åsne Seierstad.

De realçar ainda a abordagem da questão dos direitos legais dos jornalistas em zonas de conflito, levantada por Knut Dörmann, da Cruz Vermelha Internacional, que defendeu o reconhecimento dos ataques contra jornalistas como crime de guerra e a “necessidade de treino, disseminação e implementação das leis no terreno”.

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