O Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas analisou uma queixa de Andreia Pinto, a propósito da retirada de um seu comentário postado na notícia publicada no site do Correio da Manhã, de 9 de Abril de 2012, relativa à alegada negligência de um médico do Hospital Cuf Descobertas no tratamento de uma senhora cancerosa.

Analisados os esclarecimentos solicitados às partes envolvidas, o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, não querendo substituir-se ao poder decisório do jornal “Correio da Manhã”, lamentou que o mesmo, que se pauta por ser “um jornal de renome nacional e internacional que granjeia junto da sociedade parceiros, colaboradores, jornalistas e seguidores, uma imagem de prestígio e idoneidade; que mantém ao seu serviço diversos jornalistas, que contribuem para a divulgação da informação actual, exímia e profissional (…)”, tenha descuidado este caso.
Compreendemos a opção jornal em não fazer uma sequência de casos, mas consideramos que o podia ter feito, já que se tratava de um novo caso e referente ao mesmo Hospital das Descobertas.Do mesmo modo quando o jornal “Correio da Manhã” noticia um crime, não deixa de noticiar outros, que sendo igualmente infrações penais e às vezes sobre o mesmo objeto do crime, são diferentes no seu modus e nas suas consequências.
Infelizmente as negligências médicas são um pecha nos nossos dias , mas isso não nos retira o dever jornalistico de as noticiar em nome do interesse público.
Há no relato de Andreia Pinto enviado a este jornal e ao CD, elementos suficientes de interesse público para um trabalho noticioso com o respeito pelas regras legais deontológicas de que argumenta o jornal, a contrario, como motivo da sua decisão.
Ele será apenas gravosamente repetitivo quanto à instituição a quem imputa negligência (Hospital das Descobertas), mas não será repetitivo quando ao modus ou à consequência para os seres humanos. Neste caso foi a lesão de uma criança que a torna inválida para sempre.
Lamentamos que o jornal “Correio da Manhã” tenha eliminado o comentário de Andreia Pinto, sem investigação, por motivos não comprovados e em dissonância com a liberdade de expressão alegadamente respeitada e exercida pelo próprio jornal no conceito de comentário livre , aceite pela sociedade democrática.
Cada pessoa é única, cada caso é diferente do outro. Cada peça jornalística incorpora a sensibilidade do seu autor como algo imaterial que o distingue do outro (Relatório OIT 1928).
Este CD acredita que o “Correio da Manhã” tem profissionais dotados de sensibilidade suficiente para, ainda, poder tratar noticiosamente deste assunto, que em termos deontológicos “ foi abusivo da boa fé” de Andreia Pinto (4.CD )e simplesmente “limpo”, sem “uma ética de cuidado”.

Lisboa, 20 de Outubro de 2012

Otilia Leitão
Vice-presidente