A Fundação Andreani, com o apoio do jornal argentino “Clarín”, inaugurou, a 30 de Julho,uma exposição de homenagem a Quino, o criador de ‘Mafalda’ e o mais universal dos humoristas gráficos da Argentina.
O pretexto da homenagem é o aniversário da primeira publicação de uma das ‘tiras’ de Quino, em 1954, publicada no semanário “Esto es”.
Como recorda o diário “Clarín”, onde o cartoonista colabora desde 1980, entre os temas mais abordados por Quino em meio século de actividade destaca-se “a guerra fira, a ameaça nuclear, a repressão, os Beatles, a psicanálise, a chegada à Lua, a burocracia, a arte contemporânea e até o aparecimento do Citroen 2CV”, ou seja, questões que povoaram “o imaginário das classes médias urbanas”.
O aspecto mais marcante da obra de Quino é sem dúvida a sua universalidade, bem expressa no facto de estar traduzida em mais de 20 línguas.
“A temática da Mafalda está muito ligada a certos tópicos do nosso país – afirma Quino no “Clarín” – pelo que sempre me interroguei como era perceptível noutras culturas, sobretudo quando soube que ia ser editada na China. Depois, num filme chinês, vi a cena de um tipo que tinha uma espécie de armazém em que recebia um cliente que se queixava porque o licor estava misturado com água. Então disse para mim próprio: ‘mas isto é o armazém de don Manolo’. Pessoas de toda a parte diziam-me que os problemas da Mafalda e da sua família eram iguais nos seus países. No entanto, devo reconhecer que o caso da China ainda me surpreende bastante”.
À questão de como foi possível manter a sua intervenção crítica durante a ditadura militar na Argentina, Quino responde que a censura foi algo com que conviveu desde o momento em que começou a trabalhar. “Nas primeiras redacções que percorri advertiram-me de imediato que havia temas, como o sexo, os militares e a repressão, em que não se podia tocar”, diz o cartoonista, esclarecendo que desta forma “se aprende a autocensura e se encontra formas de evitar o controlo”. A título de exemplo, refere a questão da sopa – no caso da Mafalda -, que para ele era “uma metáfora do autoritarismo militar”. A propósito, Quino cita uma das tiras em exposição em que Mafalda aponta um bastão de um polícia e diz “este é um palito para remover ideologias”, e lembra que em 1975 os serviços de segurança do Estado inundaram a cidade com outro cartaz em que Manolito estava junto ao polícia e replicava: “Vês, Mafalda. Graças a este palito podes ir tranquila para o colégio”.
Quanto ao mundo de hoje, Quino mostra-se preocupado, não hesitando em afirmar que “há coisas que fazem pensar que se está muito pior, como o facto de um personagem como Bush estar à frente do mundo”.
“É como o imperador Ming da história de Flash Gordon, que quer dominar o mundo, com a diferença de que aqui não há ninguém para nos proteger. Nesse sentido, sim, estamos pior”, afirma Quino.