“Que a trovoada nos una como classe independente”

“Como anda trovoada no ar, que ela nos una como classe profissional, independente e publicamente responsável”, disse o presidente substituto cessante da Mesa da Assembleia Geral, Fernando Cascais, na cerimónia de posse dos corpos sociais do Sindicato dos Jornalistas. “Quando troveja na profissão e na empresa, todos se lembram dele”, acrescentou.

Efectivo-me hoje, de novo, como substituto da presidente da Assembleia Geral. Se a Diana Andringa aqui estivesse, passaria o testemunho a si própria e o acto seria mais simples. Assim, vão ser sujeitos a uma passagem clássica. Mas prometo ser breve.

Caros camaradas dirigentes do Sindicato dos Jornalistas: a passagem do meu testemunho é um triplo agradecimento que eu (e os jornalistas que neste momento represento) vos devemos – muito em especial ao órgão executivo sindical, a Direcção.

Primeiro: obrigado pelo sacrifício pessoal dos vossos dias sem horas e dos vossos fins-de-semana sem folga nem amigos ou familiares.

Segundo: agradecemo-vos também a voluntária subordinação dos interesses e carreiras profissionais aos trabalhos sindicais (onde tantas vezes a crítica fácil e a injusta são a vossa compensação).

Terceiro agradecimento:

Vocês sabem como esta profissão é hoje vítima de assédio: do entretenimento, da publicidade, do vedetismo, da produção de conteúdos, das tecnologias convergentes. E também dos gabinetes e conselheiros de comunicação de poderes políticos e, sobretudo, económicos.

Sabem como a profissão é adulterada com trabalho gratuito e descontrolado de muitos jovens que continuam a acreditar nela.

Sabem como tantos seniores se afastam ou tornaram descartáveis numa profissão onde já mal se reconhecem.

Sabem como a concorrência entre os gestores atropela a deontologia dos profissionais do jornalismo.

Sabem como nesta sociedade mediatizada e teledependente o espaço público da informação – princípio de pluralismo e de liberdade de palavra – vai sendo atacado (e minado).

Sabem como este estrangulamento sufoca o direito ao exercício independente de uma profissão cuja ética assenta na responsabilidade pública.

Sabem como alguns de entre nós se deixam arrastar nas estratégias dos interesses privados que lhes dão trabalho e, às vezes, fama efémera.

Sabem que as estratégias privadas se entendem e concentram e que o acesso dos jornalistas ao trabalho se reduz paralelamente à diminuição do número de grandes proprietários da comunicação social.

Sabem como as empresas resistem a investir na qualificação dos jornalistas e a considerar a formação contínua um direito e uma via de progressão na carreira.

Com a humildade que tantas vezes nos falta, reconheçamos que somos – ou pelo menos aparentamos ser – mais uma somatório de individualidades do que um colectivo profissional.

Valha-nos, porém, o reverso desta medalha, que é o que poderei designar por «Síndroma de Santa Bárbara» deste sindicato. Quando troveja na profissão e na empresa, todos se lembram dele. Os seus esforçados dirigentes e os seus competentes e dedicados funcionários que o digam…

Caros camaradas: vocês sabem tudo isto, e quiseram voltar a ser eleitos para nos representarem num combate com tantas frentes.

Por isso, o terceiro agradecimento: obrigada pela vossa coragem.

Pronto, caro Acácio, cabe-te agora a vez de me substituíres substituindo a presidente. E como anda trovoada no ar, que ela nos una como classe profissional, independente e publicamente responsável. Obrigado.

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