Publicar uma edição reduzida da Visão, contra a força da greve, prejudica a revista e os leitores

É inegável o impacto da greve na Trust in News. O que falta é que a administração tenha respeito suficiente pelos trabalhadores para lhe dar resposta. A revista Visão, em formato reduzido, que chegou hoje às bancas não preenche a missão de interesse público que merece. Feita por poucos trabalhadores e colaboradores externos, tem como efeito apenas procurar mascarar o impacto da greve da maioria dos trabalhadores. Mas quem compre esta edição da Visão – como a Caras publicada hoje, com um dia de atraso – não se deixará enganar. Para os leitores esta é mais uma prova de quem sem jornalistas não há jornalismo, e de que sem salário não há trabalho.

A edição desta semana desrespeita os leitores da Visão. É feita praticamente sem atualidade noticiosa, portanto para preencher as páginas, recorreu-se à republicação de artigos de outras revistas do grupo e à tradução de exclusivos de órgãos internacionais. Demonstrando particular falta de cuidado para com os 80% de jornalistas que há uma semana mantém a paralisação, nesta edição reduzida da Visão usam-se fotografias de fotojornalistas que estão neste momento em greve. O mínimo seria não aproveitar a produção antiga de quem, conscientemente, está neste momento a reter a sua força de trabalho, em protesto perante as sucessivas falhas no pagamento de salários e outros problemas de gestão. Mais, também para encobrir a greve, para fechar a Caras chamou-se um designer gráfico que fora deste período de protesto estaria apenas dedicado às revistas generalistas da TiN, já que estava ausente a equipa que faria este trabalho.

O Sindicato dos Jornalistas louva a forte adesão à greve, de que estas edições reduzidas da Visão e da Caras são expressão. Podem ter saído revistas, mas todos sabemos que a situação é insustentável. Quantas mais poderão ser produzidas contra a vontade das redações? Até quando quer a gerência da Trust in News colocar revistas em banca que defraudam desta forma a expectativa de leitores habituados à qualidade dos títulos históricos nas suas mãos, prejudicando a sua reputação? Publicando traduções, recorrendo a colaboradores externos, transferindo designers gráficos de umas revistas para outras, não poderão ocultar a greve.

Infelizmente, passada uma semana de paralisação massiva dos trabalhadores da TiN, a gerência e o sócio único Luís Delgado continuam sem dar sinal sobre o pagamento dos salários devidos aos trabalhadores por trabalho feito, e cumprir com a injeção de capital prometida aos credores para que aprovassem um plano de recuperação pós-insolvência da empresa. Além do pagamento de 75% do salário de maio em falta, os trabalhadores em greve exigem o pagamento do subsídio de refeição e dos subsídios de férias já em atraso, a uma semana de lhes deverem os salários de junho. Os trabalhadores da TiN, que têm aderido de forma digna a este protesto, poderão em breve endurecer as formas de luta caso as suas exigências continuem por cumprir. Resta ao SJ apelar aos poucos que ainda ficam no interior da empresa, que se juntem aos camaradas nesta jornada de luta.
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