Pressões levam jornalista a perder emprego e casa na Índia

Kamlesh Paikra, correspondente do diário “Hindsatt” em Bijapur, no estado indiano de Chattisgarh, perdeu o emprego e foi forçado a abandonar a sua casa na sequência de intimidações das autoridades e ameaças de morte de milícias anti-maoístas, em virtude do seu trabalho como jornalista.

O caso motivou reacções da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), que considerou inaceitável a intimidação de jornalistas, pois uma genuína democracia só existe quando estes podem fazer o seu trabalho de forma independente e sem medo de represálias, e da Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que exigiu a intervenção das autoridades de Nova Deli na defesa dos direitos dos repórteres naquela região.

As pressões sobre o jornalista de 27 anos começaram em Abril de 2005, quando D.L. Manhar, superintendente da polícia, convocou o jornalista e exigiu que este lhe revelasse as fontes das suas notícias sobre os Naxalites (partido maoísta cujas actividades estão proibidas na Índia) na região de Dantewada.

Quando Kamlesh Paikra se recusou a fazê-lo por questões de ética jornalística e por temer represálias dos maoístas, o superintendente avisou-o de que a sua postura teria “consequências adversas”.

Em Setembro de 2005, milícias anti-maoístas apoiadas pelo Estado apropriaram-se do nome “Salwa Judum” – que significa ‘Marcha de Paz’ e que designou, em Junho de 2005, uma revolta popular contra os excessos maoístas – e espalharam o terror na aldeira de Mankeli, queimando cerca de 50 casas.

O caso foi noticiado por Kamlesh Paikra a 8 de Setembro e originou uma visita à aldeia de uma delegação do Partido Comunista da Índia. Pouco depois, o governo local recusou a emissão da licença comercial necessária ao funcionamento de uma loja, com a qual o jornalista complementava o magro salário de correspondente e sustentava a família.

Pouco depois, o repórter sofreu mais limitações, quando elementos das “Salwa Judum” o começaram a impedir de viajar para fora de Bijapur, em especial para os campos de refugiados provocados pela acção violenta das milícias, e as autoridades não o deixaram acompanhar uma delegação de direitos humanos que visitou esses campos entre 26 e 29 de Novembro.

Após queixas dessa delegação de direitos humanos, o irmão do jornalista – director de uma escola de aldeia – foi preso a 1 de Dezembro por possuir literatura e uniformes maoístas, tendo sido libertado sob fiança duas semanas depois.

Estas situações, a par de informações de que a polícia estaria a planear eliminá-lo em Bijapur, levaram Kamlesh Paikra a mudar-se com a mulher e os pais para Dantewada, na terceira semana de Dezembro, perdendo assim o emprego.

Preocupado com o caso, o sindicato de jornalistas de Chattisgarh solicitou às autoridades da região que garantam a segurança de Kamlesh Paikra, mas até ao momento esse pedido não obteve qualquer resposta.

Na mesma região, a RSF deu ainda conta do caso de Lakshman Singh Kusram, ameaçado no início do ano por ter noticiado que elementos da polícia haviam agredido algumas mulheres, e recordou que, a 1 de Setembro de 2005, Baliram Kashyap, deputado do Bharatiya Janata Party (partido que controla Chattisgarh) disse em público que todos os jornalistas que “glorificassem os maoístas” deviam ser mortos.

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