Presidente da RAI denuncia intromissão de Berlusconi

Silvio Berlusconi “está directamente implicado” nas decisões da RAI, desde a escolha de jornalistas até à emissão ou não de certos programas, denunciou no dia 2 de Fevereiro a presidente da televisão pública italiana, Lucia Annunziata.

Segundo a presidente da RAI, Berlusconi telefona aos membros do conselho de administração para dar as suas sugestões, o que para Lucia Annunziata expõe “um conflito de interesses”, já que o chefe do governo é também proprietário do grupo Mediaset, e deste modo controla seis dos sete canais em sinal aberto de Itália.

A responsável pela estação pública transalpina explicou que soube destas informações de forma “não oficial” para justificar certas decisões da RAI, como a recente recusa pelo conselho de administração da candidatura de Ferruccio De Bortoli, ex-director do “Corriere della Sera”, para um programa informativo.

As declarações da presidente da RAI caíram como uma bomba no seio do conselho de administração da televisão pública, tendo diversos conselheiros garantido que tudo não passava de imaginação de Lucia Annunziata e declarado esperar a correcção das afirmações incautas que foram proferidas.

O conselheiro Francesco Alberoni considerou que “a presidente se comportou mais como uma jornalista sensacionalista do que como uma dirigente com responsabilidades”, enquanto Marcello Veneziani considera que Lucia Annunziata produziu estas acusações “devido ao momento difícil no seio da esquerda italiana, junto da qual a presidente da RAI se deve estar a tentar reabilitar”.

A nível político as reacções também não se fizeram esperar, com Giorgio Lainati, da Forza Italia, a considerar que Lucia Annunziata apenas destilou a dose diária de veneno contra o presidente do Conselho, e o senador Michele Bonatesta, também ele da coligação de governo, a afirmar que é a presidente da RAI que recebe telefonemas da oposição com sugestões de nomes.

Já a oposição parlamentar, pela voz de Giuseppe Giulietti, afirma que se vai reunir para definir iniciativas a tomar em todas as sedes, uma vez que considera que as afirmações graves de Lucia Annunziata e a lista de censurados e expulsos da RAI nos últimos meses tornam evidente que as próximas eleições correm o risco de ser profundamente manipuladas.

Recorde-se que, há cerca de uma semana, a subdirectora de informação, Daniela Tagliafico, apresentou a demissão como protesto contra o tratamento da informação política na RAI, tendo recebido uma carta de solidariedade de parte considerável da redacção da televisão pública.

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