Prémios Internacionais de Liberdade de Imprensa

Os jornalistas Abdul Samay Hamed, do Afeganistão; Musa Muradov, da Rússia; Aboubakr Jamai, de Marrocos; e Manuel Vázquez Portal, de Cuba, são os distinguidos este ano com os Prémios Internacionais de Liberdade de Imprensa, atribuídos pelo Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ).

Fundamentando a escolha, o Comité para a Protecção dos Jornalistas esclareceu que, “num ano em que foram dolorosamente recordados os perigos do jornalismo de guerra, é importante homenagear e reconhecer a coragem dos jornalistas de todo o Mundo que se confrontam com riscos semelhantes enquanto fazem reportagens mesmo à porta de casa”.

Abdul Samay Hamed é um escritor independente, editor, e uma das vozes mais importantes da liberdade de imprensa no Afeganistão. Em 2002 criou a Associação de Defesa dos Direitos do Escritor Afegão e a revista “Telaya”, cujos artigos e comentários sobre problemas políticos e sociais que afectam o país lhe valeram inimigos. Em retaliação por trabalhos corajosos sobre os “senhores da guerra”, Abdul Samay Hamed foi atacado em Cabul, em Abril passado, por dois homens armados com armas brancas.

Musa Muradov é o chefe de redacção do semanário “Groznensky Rabochy”, a única publicação independente da Chechénia. Musa Muradov foi inúmeras vezes assediado e ameaçado pelas autoridades federais da Rússia e pelos rebeldes chechenos por recusar que o seu jornal seja um mero porta-voz das posições de qualquer das partes.

Em 1996 um repórter do jornal foi morto num fogo-cruzado, o mesmo sucedendo a outro jornalista do título em 1999, ano em que uma bomba destruiu as instalações do periódico, forçando Musa Muradov a abandonar a região. Todavia, o jornalista continuou a editar o semanário a partir de Moscovo e, apesar das restrições governamentais impostas à cobertura do conflito pelos média, insiste em distribuí-lo na Chechénia.

Aboubakr Jamai é editor dos periódicos “Le Journal Hebdomadaire” e “Assahifa al Ousbouiya”, sucessores das publicações “Le Journal” e “Assahifa”, conhecidas por desbravarem novo terreno no jornalismo de investigação marroquino, denunciando corrupção governamental, assuntos-tabu políticos e ilegalidades empresariais. Ambas foram encerradas em 2000 pelo governo após publicarem uma carta envolvendo um antigo primeiro-ministro na tentativa de assassinato contra o rei Hassan II, em 1972.

Depois de relançarem os periódicos com novos nomes, Aboubakr Jamai e um colega foram condenados, em 2001, a vários meses de prisão e a uma multa de 200 mil dólares americanos por difamarem o primeiro-ministro num artigo de investigação que o acusava de corrupção. Os jornalistas aguardam em liberdade o resultado do recurso à sentença.

Manuel Vázquez Portal era professor, conselheiro literário do ministro da Cultura cubano e jornalista em diversos órgãos de comunicação governamentais antes de começar a trabalhar para a agência de notícias independente “Cuba Press”, em 1995. Quatro anos depois, Manuel Vázquez Portal ajudou a formar outra agência noticiosa independente, a “Grupo de Trabajo Decoro” e, em Março de 2003, foi preso na sequência da ofensiva do governo cubano contra os média independentes. Manuel Vázquez Portal foi um dos 28 jornalistas condenados, encontrando-se a cumprir uma pena de 18 anos.

A cerimónia de entrega dos prémios terá lugar em Nova Iorque, a 25 de Novembro.

Além destes quatro jornalistas – que, segundo o CPJ, sofreram fortes represálias por exercerem o seu trabalho com independência e autoridade em países onde tal é difícil –, será homenageado o norte-americano John F. Burns, do “The New York Times”, cuja carreira jornalística e trabalho em prol da liberdade de imprensa são distinguidos com o Burton Benjamin Memorial Award.

John F. Burns tem 40 anos de jornalismo e já ganhou duas vezes o Pulitzer pelo seu trabalho em zonas de guerra (em 1997 por uma reportagem sobre os talibãs e em 1993 pela cobertura do conflito na Bósnia) e duas vezes o George Polk Award: uma enquanto membro da equipa de repórteres que, em 1979, na África do Sul, acompanhava o auge do apartheid, e outra em 1996, pelo seu trabalho no Afeganistão.

Partilhe