Precariedade é problema da democracia

A precariedade no emprego dos jornalistas é um problema da democracia e de toda a sociedade e não apenas de uma classe profissional, disse o presidente do Sindicato dos Jornalistas, ao intervir na posse da Direcção Regional dos Açores, em 28 de Maio. Alfredo Maia destacou o papel da direcção agora instalada no arquipélago, como entidade que passará a participar “na vida social, cívica e cultural da região”.

É o seguinte o texto integral da intervenção de Alfredo Maia:

“Em meu nome pessoal e em nome da Direcção do Sindicato dos Jornalistas, começo por agradecer à comissão instaladora da Direcção Regional dos Açores o magnífico trabalho desenvolvido, com vista à criação, pela primeira vez, da estrutura regional do Sindicato.

Com o perdão dos restantes associados, que aderiram com entusiasmo à ideia e ao projecto de instalar o Sindicato na região, gostaria de destacar o papel particular do jornalista Vítor Pereira, a quem devemos a dinamização da equipa e das tarefas com vista à sua concretização.

Agradeço ainda à Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada, que tem cedido as suas instalações para reuniões e outras actividades indispensáveis à construção do projecto de Direcção regional do SJ, e que hoje, significativamente e simbolicamente nos acolhe neste acto.

À Direcção Regional que acabou de ser empossada, e em particular ao seu presidente, Nuno Mendes, cabe também uma palavra de agradecimento especial, sabendo nós que não é fácil, nos tempos que correm, aceitar e desempenhar tarefas com o peso e a complexidade das que lhes caberão.

De facto, se a Direcção Nacional do Sindicato dos Jornalistas realizou, enfim, uma velha aspiração, há que reconhecer que concretizou o mais fácil, pois as tarefas que esperam a Direcção Regional serão seguramente mais árduas e difíceis e representarão um esforço que só a generosidade já demonstrada pelos camaradas que as aceitaram é capaz suportar.

A partir de hoje, a Direcção Regional não se limitará a proceder à instalação física e burocrática do Sindicato, pois é desde já chamada a proceder ao levantamento das condições em que trabalham os jornalistas na região e a preparar respostas aos seus problemas.

Caber-lhe-á igualmente um importante papel na afirmação do Sindicato dos Jornalistas não só como interlocutor junto das empresas e das autoridades regionais, mas também como entidade que passa a participar, de pleno direito, na vida social, cívica e cultural da região, em particular nesta cidade, onde terá a sua sede operacional.

Reconhecemos as condições adversas em que a Direcção Regional é chamada a realizar o seu trabalho, decorrentes, desde logo, da geografia do Arquipélago, mas o empenho e a dedicação que os seus membros emprestam à missão que abraçaram dão a garantia de que a solidariedade e a camaradagem fraterna vencerão a descontinuidade territorial.

A própria dimensão das empresas e a dispersão do seu tecido, assim como algumas fragilidades do sector, criam igualmente constrangimentos que reconhecemos complexos e que se prevê venham a constituir obstáculos por vezes difíceis.

Anima-nos, no entanto, um desígnio irrenunciável: os jornalistas e as suas organizações, mesmo quando se batem por direitos que são os seus, não deixam de pugnar pelo interesse colectivo da empresa e do sector em que operam e, sobretudo, de valorizar o papel destas na construção de um projecto mais ampla e mais duradouro que é a consolidação da Democracia, o progresso social, cultural e científico.

No diálogo permanente com as empresas, as associações empresariais, autoridades e organismos da administração pública, o Sindicato dos Jornalistas dá, pois, o seu contributo para que a Comunicação Social se afirme como decisiva alavanca de progresso e desenvolvimento, na medida em que é servida por profissionais que oferecem crescentes garantias de qualidade e responsabilidade.

Em ordem a assumir tal responsabilidade, os jornalistas reclamam o respeito por direitos que, sendo legitimamente seus, mais não visam do que garantir que, além do desempenho digno de uma profissão, cumprem sem limitações o mandato de confiança que o público todos os dias lhes confere.

Nessa medida, o nosso Sindicato mantém na ordem do dia a imperiosa necessidade de restaurar direitos laborais e de garantir a efectiva protecção dos direitos de autor sobre as suas criações.

Neste particular, não nos move nenhum instinto corporativo, mas sim o desejo de contribuir para a preservação da liberdade de expressão, da diversidade de pontos de vista e até da própria identidade das empresas, cuja soberania editorial é posta em risco quando aceitam que produções jornalistas sejam transacionadas a granel como mercadoria sem valor nem dignidade.

Este tema convida a uma reflexão mais ampla, que não deve confinar-se à corporação, antes exige um compromisso mais amplo da Sociedade, que igualmente deve ser confrontada com um dos problemas mais sérios que vitima os jornalistas – a precariedade.

Partidos, associações, organizações de diversos tipos e vocações devem ser chamados a reflectir em conjunto sobre os sérios efeitos para a liberdade de imprensa – e portanto – para a Democracia, de situações contratuais impostas a jornalistas como arma de chantagem emocional e de censura económica.

Iremos falando disto nos próximos tempos. Podem contar connosco, mas deixem-nos esperar também o apoio de todos”.

Partilhe