Polícia italiana revista e apreende material em “Il Giornale”

A polícia italiana revistou as instalações de Roma do diário “Il Giornale”, tendo confiscado material de trabalho do jornalista Gianmarco Chiocci, que há dois anos investiga alegações de corrupção no caso Telekom Serbia.

A acção policial, levada a cabo a 17 de Outubro, durou sete horas e resultou na apreensão de 7000 páginas de ficheiros, disquetes, cassetes áudio e CD-ROMs, e na cópia do disco rígido do computador de Gianmarco Chiocci. As autoridades tentaram, sem sucesso, fazer também uma busca à casa do jornalista, mas este não se encontrava lá.

A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e a Federação Nacional da Imprensa Italiana (FNSI) condenaram de imediato a operação, considerando-a inaceitável numa sociedade democrática e uma grave violação à confidencialidade das fontes jornalísticas.

A RSF relembrou também que a 25 de Fevereiro, num caso similar ao do “Il Giornale”, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos decidiu que buscas à casa ou às instalações profissionais de um jornalista contrariavam o artigo 10º da Convenção Europeia de Direitos Humanos, caso não existisse qualquer “necessidade social premente”.

Já a FNSI criticou que a operação policial tenha gerado uma indisponibilidade parcial de toda a redação do “Il Giornale” e recordou que este não é o primeiro caso do género em Itália, onde têm ocorrido várias buscas policiais a redacções e a casas de jornalistas.

A FNSI reivindica ainda o respeito pelo direito de imprensa – a exercer pelo jornalista com base na ética profissional –, sem no entanto comentar a validade dos motivos que levaram a Procuradoria da República de Perugia a ordenar a busca, na sequência de uma queixa da juíza Maria Bice Barborini.

A juíza em causa acusa Gianmarco Chiocci e o editor do “Il Giornale”, Maurizio Blepietro, de difamação e violação do segredo de justiça. Em causa está a publicação de uma entrevista com o consultor financeiro Igor Marini, que alega que Maria Bice Barborini lhe ordenou que não falasse sobre o caso Telekom Serbia, caso contrário “seriam todos mortos”.

Todavia, a violação do segredo de justiça de que é acusado o “Il Giornale” – diário que pertence a Paolo Berlusconi, irmão do primeiro-ministro italiano – diz respeito a declarações que Igor Marini fez a juízes suíços, e é tanto mais estranha quanto são muitos os jornais italianos que estão a investigar o caso Telekom Serbia.

O escândalo da Telekom Serbia estoirou há dois anos. A compra de 29 por cento da Telekom Serbia por parte da Telekom Italia, em 1997, resultou na perda de mais de 500 mil milhões de liras.

Segundo Igor Marini, o negócio rendeu contrapartidas a várias figuras do governo italiano de então, entre as quais Romano Prodi, à época primeiro-ministro e actual presidente da Comissão Europeia.

No entanto, o diário “La Repubblica” publicou recentemente documentos que supostamente demonstram que Igor Marini é um impostor e que todo o escândalo foi fabricado pela direita italiana.

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