“Para quê dialogar?” – réplica de Acácio Barradas ao comentário “Ainda os jornalistas”

O presidente da Assembleia Geral do Sindicato dos Jornalistas (SJ), Acácio Barradas, enviou ao “Público” uma réplica ao comentário intitulado “Ainda os jornalistas”. Quatro dias depois, a carta não foi publicada* o que levou o seu autor a torná-la pública.

Recorde-se que a réplica de Acácio Barradas ao editorial de 21 de Fevereiro só foi publicada nove dias após o seu envio e de o autor se ter queixado ao Provedor do Leitor e ao Conselho de Redacção do jornal.

No dia seguinte àquele em que o texto foi publicado, o diário inseriu um comentário de resposta de Paulo Ferreira, também autor do editorial, intitulado “Ainda os jornalistas”.

Acácio Barradas critica o comentário de Paulo Ferreira, que considera manter o “deplorável estilo da sua invectiva, que achei medíocre” e “tresler o meu texto, com descarada má-fé, para ludibriar os leitores”.

É o seguinte, na íntegra, o texto de Acácio Barradas enviado em 4 de Março ao jornal “Público”:

“PARA QUÊ DIALOGAR?”

Parabéns ao PÚBLICO pela isenção e imparcialidade! Os factos falam por si: no dia 21 de Fevereiro foi publicado um editorial intitulado «Assim vai o reino dos jornalistas», subscrito por Paulo Ferreira. No mesmo dia enviei ao Director do jornal uma réplica que levou nove dias a publicar. Bastaram, porém, 24 horas para que Paulo Ferreira treplicasse. Chama-se a isto ter a faca e o queijo na mão e poder usar e abusar das prerrogativas de arbitrar e decidir em causa própria.

Perante este modelo de equidade, é ridículo que Paulo Ferreira tente lançar sobre mim a suspeita de não ser isento na defesa do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e do respectivo presidente da Direcção. Com base em quê? No facto de eu ser presidente da Assembleia Geral do SJ e porque já fui – diz ele – «vice do actual presidente». Esta forma de requalificação de um cargo que exerci em dois mandatos é abusiva e mal intencionada. Eu não fui «vice» de ninguém. Fui, sim, vice-presidente da Direcção. Esse é o nome do cargo que desempenhei e para que fui eleito. É como tal que reclamo o direito de ser referido.

Se o facto de estar ligado ao SJ pelo exercício de cargos representativos me retira distanciamento, capacidade de reflexão e serenidade para aceitar as críticas que lhe são dirigidas, então como se compreende que ao longo dos anos eu tenha assistido, sem me manifestar publicamente, a vários ataques que incidiram no mesmo alvo? A prova desse distanciamento é que cheguei ao ponto de reproduzir muitas dessas críticas no sítio do SJ na Net, por mim criado no tempo em que fui vice-presidente da Direcção. Curiosamente, uma das críticas mais acerbas que então transcrevi, com a devida autorização do autor, era do próprio Director do PÚBLICO, José Manuel Fernandes, que se manifestava abertamente contra a posição do SJ em matéria de estágios profissionais.

Quem me conhece profissionalmente, ou nas actividades associativas, sabe que prezo o confronto de ideias e valorizo a polémica, sendo razoavelmente imune a atitudes corporativas. No caso do editorial de Paulo Ferreira, o que me indignou e fez intervir, não foi apenas o meu vínculo ao SJ. O que senti foi sobretudo uma íntima rejeição, como jornalista e velho leitor do PÚBLICO, pelo deplorável estilo da sua invectiva, que achei medíocre para representar a opinião de um jornal de referência que muito prezo. E, a avaliar pelo seu comentário à minha réplica, o estilo mantém-se, visto que Paulo Ferreira não se coíbe de tresler o meu texto, com descarada má-fé, para ludibriar os leitores. Um exemplo basta: atribui-me a intenção de fazer crer que «o Conselho Deontológico (CD) não tem nada a ver com o SJ», quando eu apenas chamara a atenção para o facto de «o CD funcionar com independência em relação aos corpos gerentes do SJ, pelo que os seus pareceres não vinculam automaticamente a Direcção».

Com tal malabarista, para quê dialogar?

(*) Foi publicada no dia seguinte (08/03/2006) ao da edição desta notícia.

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