Nova direção toma posse esta segunda-feira ciente dos desafios e empenhada em trabalhar

A direção do Sindicato dos Jornalistas (SJ) toma posse esta segunda-feira para o mandato do triénio 2024/26. Luís Filipe Simões foi reeleito, encabeçando uma lista renovada. A tomada de posse está agendada para as 16 horas, na sede nacional do SJ, na rua Duques de Bragança, 7E, em Lisboa.

Além da direção, eleita numa lista única que contou com 92% dos votos, tomam posse os eleitos do Conselho Fiscal, do Conselho Geral e do Conselho Deontológico. É um elenco ciente dos grandes desafios do futuro e empenhado em trabalhar para a melhoria das condições de trabalho dos jornalistas, dignificando e elevando a profissão.

O Processo Especial de Revitalização solicitado pela Trust in News (TiN) e a situação dos jornalistas a recibos verdes no Global Media Group (GMG), que no início de junho ainda não receberam as verbas correspondentes aos trabalhos realizados em março, são dois exemplos das fragilidades da profissão e dos desafios que temos pela frente.

O SJ acompanha a situação da Trust in News (TiN) há meses e entende que este desfecho, temido, só pode ser uma surpresa para quem estiver desatento ao que se passa no panorama atual da comunicação social portuguesa, particularmente a impressa, a viver uma crise sem precedentes.

É bem ilustrativa das dificuldades e dos problemas que enfrentam os jornalistas, aliás denunciada pelo SJ por duas vezes, a situação do Global Media Group: quando uma empresa recebe uma transferência bancária de outra, com quem negoceia, para o pagamento dos salários e não paga a todos os trabalhadores, como se o impensável fosse aceitável, tratando de forma ignóbil aqueles que se encontram numa posição mais frágil e desprotegida – os recibos verdes, absolutamente essenciais nos órgãos do GMG, mas sem salário e sem respeito.

Estes dois casos demonstram, uma vez mais, que é imperioso olhar de frente para o problema da sustentabilidade da comunicação social. Com a aniquilação dos anúncios em papel e a passagem da publicidade quase toda para grandes empresas tecnológicas, que ainda por cima aproveitam o trabalho dos jornalistas para encher chouriços digitais sem as devidas compensações, a situação das empresas de media degradou-se de forma contínua no novo milénio. Nada que o SJ não tenha antecipado e tenha tentado combater, como foi sinal a conferência sobre a Sustentabilidade e o Financiamento dos Media, organizada em 2019.

Apadrinhada pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a conferência colheu a simpatia de jornalistas, especialistas e políticos. Produziram-se bons “soundbytes”, que, infelizmente, não passaram de promessas vãs e anúncios pífios. Muito pouco, especialmente da parte daqueles que podem decidir, os políticos, e que dizem reconhecer o jornalismo como um pilar fundamental da democracia.

Cinco anos volvidos desde essa tentativa de colocar a sustentabilidade dos media no centro da esfera decisória, fica a sensação de que a muitos políticos não interessa uma Comunicação Social forte e ativa, capaz de escrutinar e de verificar; aparentemente, interessa-lhes mais uma Comunicação Social amansada pelos baixos salários e pela precariedade. E pela incerteza dos salários ao fim do mês. Convém lembrar que as condições de trabalho, ou a falta delas, tem impacto na liberdade de Imprensa e que a degradação das condições de vida dos jornalistas é, também, um ataque aos artigos 37 e 38 da Constituição da República Portuguesa.

Não será desajustado pensar que a muitos políticos parece interessar mais, também, o “bypass” ao jornalismo, pois acharão mais rentável “bitaitar” para as redes sociais e esperar o efeito tsunami, a que os jornalistas ajudam, reproduzindo muitas vezes em forma de notícia alarvidades atiradas para as redes sociais. Beneficiando de uma comunicação social que replica os “soundbytes” de forma quase “pavloviana”, sem tempo de recuo, sem espaço para o pensamento crítico e cada vez com menos memória, constroem-se narrativas que minam a nossa sociedade e podem ter efeitos perniciosos no nosso futuro enquanto país.

E se a alguns provém mais um jornalismo amedrontado pela ameaça de falência financeira e pelas dificuldades económicas dos jornalistas, é dolorosa esta sensação de indiferença por parte da sociedade, a quem mais deveria interessar o reforço do escrutínio que o jornalismo pode dar. Aqueles para quem um jornalismo forte e independente deveria ser uma condição e um factor de construção de uma sociedade mais livre e mais justa, pois todos nós beneficiamos do trabalho de escrutínio e de vigilância dos poderes que o jornalismo nos dá. Assim, cabe a todos defender o jornalismo e a melhor forma de o fazer é pagar pelo trabalho dos jornalistas.

É preciso ter Visão, Exame, Caras, JN, DN, TSF, O Jogo e até mais jornais e mais rádios. E se o mercado não consegue suportar sozinho a diversidade e a pluralidade de informação que a sociedade portuguesa desesperadamente necessita, terão de encontrar-se outros mecanismos para estimular o mercado. E o Estado, cujos representantes mudam ciclicamente, não pode ser olhado como o papão que muitos temem, porque em países do centro e norte da Europa, que tantos admiram, o Estado apoia a Comunicação Social, ajudando-a a ser mais livre e independente. Em alguns casos, desde os anos 70 do século XX. E não consta que estes países tenham défice de democracia.

 

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