O Sindicato dos Jornalistas (SJ) tomou conhecimento, com profundo pesar, do falecimento do escritor e antigo jornalista José de Sousa Saramago, de 87 anos, ocorrido hoje em Lanzarote, Espanha.
José de Sousa Saramago nasceu na aldeia de Azinhaga, concelho da Golegã, a 16 de Novembro de 1922. Após fazer os estudos secundários em Lisboa, que por dificuldades económicas não prosseguiu, José Saramago trabalhou em vários ofícios: foi serralheiro mecânico, desenhador, funcionário público, editor e tradutor, crítico literário na revista Seara Nova, comentador político no “Diário de Lisboa” (1972-73) e director do “Diário de Notícias” (1975).
Membro da primeira direcção da Associação Portuguesa de Escritores e presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores entre 1985-1994, José Saramago viveu, a partir de 1976, exclusivamente do seu trabalho literário, primeiro enquanto tradutor e depois enquanto autor. Foi laureado com o Prémio Nobel da Literatura em 1998.
O seu primeiro livro, o romance “Terra do Pecado”, saiu em 1947, seguindo-se “Os Poemas Possíveis” (1966), “Provavelmente Alegria” (1970), “Deste Mundo e do Outro” (1971), “A Bagagem do Viajante” (1973), “O Ano de 1993” (1975), “Manual de Pintura e Caligrafia” (1977), “Objecto Quase” (1978) e “A Noite” (teatro, 1979), entre outros.
Já nos anos 80 publicou “Levantado do Chão” (1980), “Que farei com este Livro?” (teatro, 1980), “Viagem a Portugal” (1981), “Memorial do Convento” (1982), “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (1984), “A Jangada de Pedra” (1986), “A Segunda Vida de Francisco de Assis” (1987) e “História do Cerco de Lisboa” (1989).
“O Evangelho Segundo Jesus Cristo” saiu em 1991 e dois anos depois surguiu a peça de teatro “In Nomine Dei”, após o que deu início à publicação dos “Cadernos de Lanzarote” (1994, diário I, e 1995, diário II), cujo nome se deve à mudança de Saramago para aquela ilha do arquipélago das Canárias.
O “Ensaio sobre a Cegueira” foi dado à estampa em 1995, a que se seguiram mais dois volumes dos “Cadernos de Lanzarote”, em 1996 e 1997, e o novo romance “Todos os Nomes”, editado também em 1997, um ano antes do quinto volume dos “Cadernos de Lanzarote”.
Após a atribuição do Prémio Nobel da Literatura em 1998, a Fundação Círculo de Leitores instituiu um galardão literário bienal com o nome de José Saramago. No ano 2000 chegou às livrarias “A Caverna”, a que se seguiu “O Homem Duplicado” (2002).
Aquando da apresentação de “Ensaio Sobre a Lucidez”, publicado em 2004, o escritor criticou duramente a democracia portuguesa por, na sua opinião, os governos serem “comissários políticos do poder económico” e mostrou-se contra o monopólio dos média.
Em 2005, para além de outras obras, Saramago dá ao prelo “As Intermitências da Morte”, que apresentou como “uma reflexão filosófica sobre a vida”.
A vasta obra do Nobel português encontra-se editada em mais de trinta países, entre os quais Dinamarca, Suécia, Finlândia, Hungria, Rússia, Turquia, Albânia, Eslovénia, Sérvia, Roménia, Macedónia, Síria, Israel, Tailândia, Emirados Árabes Unidos, México, Colômbia, Argentina e EUA.
José Saramago foi ainda distinguido com diversos prémios, como o Prémio da Associação de Críticos Portugueses (para “A Noite”, em 1979), Prémio Cidade de Lisboa (por “Levantado do Chão”, de 1980), Prémio Literário Município de Lisboa (“Memorial do Convento”, 1982) e o PEN Clube para “Memorial do Convento” (1982) e “O Ano da Morte de Ricardo Reis” (1984). Este último livro valeu-lhe ainda o Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos (1985), o Prémio Dom Diniz (1986), o galardão italiano Grinzane-Cavour (1987) e o Prémio de Ficção Estrangeira do jornal “The Independent” (1993).
Já “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” recebeu o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 1992, no mesmo ano em que “Levantado do Chão” foi galardoado em Itália com o Prémio Internacional Ennio Flaiano, enquanto “In Nomine Dei” venceu, em 1993, o Grande Prémio de Teatro da Associação Portuguesa de Escritores.
Pelo conjunto da sua obra, Saramago foi ainda distinguido com o Prémio Internacional Literário Mondello e o Prémio Literário Brancatti (ambos em 1992), Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1993), Prémio Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores e Prémio Camões (os dois em 1995) e Prémio Nacional de Narrativa Città di Penne, Prémio Europeu de Comunicação Jordi Xifra Heras e Prémio Nobel da Literatura (os três em 1998).
Luto nacional
José Saramago era militante do Partido Comunista Português desde 1969. Em nota do Secretariado do Comité Central do PCP divulgada hoje sublinha-se que “a sua morte constitui uma perda para todo o colectivo partidário comunista – para o Partido que ele quis que fosse o seu até ao fim da sua vida”. No documento, o PCP enfatiza a “dimensão intelectual, artística, humana, cívica” de José Saramago, que “fazem dele uma figura maior da nossa História”, e recorda o seu papel de “construtor de Abril, enquanto interveniente activo na resistência ao fascismo”. Uma intervenção a que Saramago deu continuidade “no período posterior ao Dia da Liberdade como protagonista do processo revolucionário que viria a transformar profunda e positivamente o nosso País com a construção de uma democracia que tinha como referência primeira a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País”.
As manifestações de pesar pela morte de Saramago abrangem todo o espectro político-partidário, bem como as mais diversas instituições. O Governo marcou uma reunião extraordinária para decretar luto nacional.
O SJ associa-se a estas manifestações de pesar e expressa as suas sentidas condolências à sua companheira, a jornalista Pilar del Rio, e restante família.