Na morte de Joaquim Benite

O Sindicato dos Jornalistas tomou conhecimento, com profundo pesar, da morte do encenador e jornalista Joaquim Benite, na madrugada desta quarta-feira, aos 69 anos, na sequência de complicações respiratórias motivadas por uma pneumonia.

Nascido em Lisboa em 1943, filho de um empresário do teatro, Joaquim Benite foi actor, jornalista, crítico de teatro e encenador. Começou a trabalhar como jornalista aos 20 anos, no jornal “República”. Fez parte da redacção do “Diário de Lisboa” e foi chefe de redacção dos jornais “O Século” e “O Diário”, tendo neste último dirigido o suplemento cultural. No “Diário de Lisboa” e noutras revistas e publicações fez crítica de teatro. Foi sócio do Sindicato dos Jornalistas enquanto exerceu a profissão.

Em 1971 fundou o Grupo de Campolide, tendo-se estreado na encenação com «O avançado centro morreu ao amanhecer», de Agustin Cuzzani. No ano seguinte ganhou o Prémio da Crítica para o melhor espectáculo de teatro amador, com a peça «Aventuras do grande D. Quixote de la Mancha e do gordo Sancho Pança», de António José da Silva.

O Grupo de Campolide transformou-se em companhia profissional em 1976 e, dois anos depois, mudou-se para Almada, cidade onde permanece e que, graças à actividade da companhia, se transformou num dos principais focos teatrais do País. Para tal contribuiu o Festival Internacional de Teatro de Almada, criado em 1984 por Joaquim Benite, e que terá no próximo ano a sua 30.ª edição.

Em 1988, Joaquim Benite criou o primeiro Teatro Municipal de Almada, de que foi director até à morte. Em 2005, o Teatro Municipal em Almada conquistou uma nova casa, num edifício da autoria dos arquitectos Graça Dias e Egas Vieira, afirmando-se como um dos principais teatros do País.
Ao longo da sua carreira, Benite encenou peças de autores como José Saramago, Shahespeare, Molière, Brecht, Lorca, Bulgakov, Camus, Adamov, Gogol, Beckett, Albee, Neruda, Thomas Bernhard, Sanchis Sinisterra, Antonio Skármeta, Pushkin, Peter Schaffer, Marguerite Duras, Dias Gomes, Nick Dear, O’Neill, Marivaux, Feydeau, Almeida Garrett, Gil Vicente, Raul Brandão, entre muitos outros. Fez também uma incursão na encenação de ópera, em 2008, com La Clemenza di Tito, de Mozart, para o Teatro Nacional de São Carlos, e é autor de diversos textos para teatro, bem como de conferências e ensaios, tendo estado à frente de vários cursos de teatro e tendo dirigido, até ao fim, a revista de teatro Cadernos e a colecção de Textos d’Almada.

Várias encenações suas foram premiadas e ele próprio foi distinguido com a Medalha de Ouro de Mérito Cultural do Concelho de Almada e a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura, além de ter sido condecorado pelo Governo francês com o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras e pelo rei de Espanha com a comenda da Ordem de Mérito Civil.

“O país perde um dos seus mais prestigiados encenadores, ligado ao movimento de renovação do teatro português no período que antecedeu e se seguiu à revolução de 1974″, diz a companhia.
Também o Secretário-geral do Partido Comunista Português, de que Joaquim Benite era membro desde 1976, escreveu em nota à imprensa que “a morte de Joaquim Benite é uma perda irreparável para a Cultura portuguesa”.
“O seu trabalho como homem de teatro – fundador de uma das mais importantes companhias de teatro nacionais e de um dos mais importantes festivais de teatro europeus – marcou impressivamente a vida cultural do nosso país”, acrescenta Jerónimo de Sousa.

O corpo do encenador vai estar, a partir das 18h de hoje, em câmara ardente na capela de Santa Joana Princesa, em Lisboa. O funeral sairá na quinta-feira, às 14h45, para o cemitério do Alto de São João.

A Direcção do Sindicato dos Jornalistas apresenta as mais sentidas condolências aos familiares e amigos do antigo camarada de profissão agora desaparecido.

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