Na morte de João Carreira Bom

A morte súbita do antigo jornalista João Carreira Bom deu origem a um comunicado do Sindicato dos Jornalistas, em que foram realçados alguns dos traços fortes do seu perfil, com a rememoração de alguns episódios marcantes da sua carreira, quer como jornalista profissional, quer como colaborador da Imprensa.

A Direcção do Sindicato dos Jornalistas soube, em plena reunião semanal, da notícia da morte súbita de João Carreira Bom, facto que gerou a consternação geral de todos os presentes.

Embora tivesse deixado de exercer a profissão de jornalista há mais de 12 anos, a fim de dirigir uma empresa de consultoria que tomou como referência as suas iniciais (JCB Comunicação), João Carreira Bom soube honrar sempre a profissão que exerceu durante mais de 20 anos, desde a redacção de «O Século», onde foi editor de política nacional, até à revista «Sábado», de que foi redactor-principal, passando pela agência noticiosa Anop e pelo semanário «Expresso», em que exerceu funções de editor da secção Nacional, tendo sido ainda comentador da Rádio France e da Rádio Comercial.

Já depois de ter deixado o exercício efectivo da profissão de jornalista, João Carreira Bom distinguiu-se como colaborador do «Expresso», assinando semanalmente a coluna «Afectos», de parceria com o cartunista António. Esta coluna, iniciada em 1990, seria abruptamente interrompida em 1997, após a publicação de um texto intitulado « O Patriota», em que fazia a caricatura em traço grosso do «patrão» da SIC.

Este incidente esteve na origem da transferência da colaboração de João Carreira Bom para o «Diário de Notícias», onde passou a assinar a coluna «Chuva de Pedra», ultimamente rebaptizada com as suas iniciais e transferida da última para a segunda página às sextas-feiras.

Personalidade forte e dotada de um espírito de independência invulgar, João Carreira Bom enfrentou, ao longo da sua carreira profissional como jornalista, vários contratempos que deram a medida da inteireza do seu carácter. Assim, em 1989 demitiu-se da revista «Sábado» depois de – conforme recordou numa entrevista ao «DN», em 9 de Novembro de 1997 – o director (…) me ter acabado com a crónica por pressão de um ministro.»

Ainda durante a sua actividade como jornalista do «Expresso», enfrentou outro grave problema em virtude de uma nota publicada na secção «Gente», em 29 de Setembro de 1984, com o título «O gosto pela fotografia», em que comentava o assédio de um antigo ministro a uma senhora casada que convidara para o seu aniversário na Quinta do Lago. Ao assumir a responsabilidade pela referida nota, João Carreira Bom foi alvo de um processo disciplinar movido pelo presidente do Conselho de Administração. Tal procedimento seria, aliás, considerado irregular e ilegal, dando origem a um movimento de protesto em que intervieram o Conselho de Redacção (na altura participado por Vicente Jorge Silva, Joaquim Vieira e José Júdice) e pela Comissão de Trabalhadores (de que participavam José Mário Costa e Teresa Schmidt), que apelaram à intervenção do Sindicato dos Jornalistas junto da Inspecção do Trabalho.

Estes episódios, entre outros, fazem realçar um dos traços marcantes da personalidade de João Carreira Bom, o qual, mesmo depois de deixar o jornalismo como ocupação permanente, se distinguiu ainda pela forma como soube demarcar o seu papel de empresário da comunicação do exercício do jornalismo. Sob este aspecto, não deixou dúvidas a posição que a tal respeito assumiu publicamente durante o 3.º Congresso dos Jornalistas, a que assistiu como convidado.

Ao relembrar estes factos como contributo para o perfil de João Carreira Bom, o Sindicato dos Jornalistas, de que ele foi associado com o número 197, associa-se à dor de quantos o tiveram como referência, apresentando à sua viúva, Maria José Mauperrin, e aos seus colaboradores na JCB Comunicações, o preito do mais profundo e sincero pesar.

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