Morte de jornalista reflecte insegurança no Iraque

O assassinato do jornalista freelance norte-americano Steven Vincent em Bassorá, a 2 de Agosto, ainda não foi reivindicado, mas segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) há indícios que apontam para os fundamentalistas religiosos.

A RSF recorda que Steven Vincent era um confesso apoiante da intervenção dos Estados Unidos no Iraque e que se mostrava muito crítico face à crescente influência dos extremistas religiosos.

Num artigo publicado no “The New York Times” de 31 de Julho, Vincent afirmou que 75 por cento das autoridades policiais de Bassorá apoiavam o líder xiita Moqtada al-Sadr e criticou as tropas britânicas, responsáveis pela segurança na cidade, por ignorarem os abusos de poder dos extremistas xiitas.

Nenhum grupo reivindicou o assassinato, assinala a RSF, o que pode indicar que os rebeldes sunitas – que geralmente se identificam como autores da morte de estrangeiros – não têm culpa neste caso.

Além disso, uma testemunha na zona onde o corpo foi encontrado disse à Agência France-Presse que quatro homens armados que se faziam transportar numa carrinha branca interpelaram o jornalista e a sua intérprete, agarraram-nos e colocaram-nos na carrinha, tendo o corpo do repórter sido encontrado cinco horas depois. A tradutora foi encontrada com vida mas gravemente ferida.

Com 50 anos, Steven Vincent escrevia para jornais como “The New York Times”, “The Wall Street Journal” ou “The Christian Science Monitor”, tendo publicado recentemente um livro sobre a guerra no Iraque intitulado “In the Red Zone”.

O jornalista, que passara os últimos meses em Bassorá a recolher material para um livro acerca da história da cidade, vestia-se como um xiita, de modo a passar despercebido, e, no dia em que foi morto, tinha uma t-shirt com uma imagem de Imam Hussein, o neto de Imam Ali, e um colar de oração em torno do pescoço, marcas distintivas de um xiita.

Democracia é um sonho distante enquanto jornalistas forem mortos

O assassinato de Steven Vincent levou entretanto a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) a considerar que uma reforma democrática e uma nova Constituição para o Iraque continuarão a ser sonhos distantes enquanto os jornalistas continuarem a ser mortos.

Recordando que já morreram 93 jornalistas – 68 dos quais iraquianos – desde o início da guerra no Iraque, em Março de 2003, a FIJ assinala que as autoridades devem pôr fim ao pesadelo de insegurança que torna a prática do jornalismo impossível no país.

A FIJ prepara-se para organizar uma conferência com representantes dos jornalistas iraquianos na Jordânia, com vista a debater os problemas relativos à segurança e para juntar esforços no sentido de fortalecer os direitos dos jornalistas ao exercício das suas funções.

Partilhe