Antónia de Sousa, cujo trabalho jornalístico pela defesa dos direitos das mulheres foi marcante, morreu hoje, dia 15
Antónia de Sousa começou a sua carreira profissional como jornalista numa revista no Porto, para a qual começou a escrever aos 18 anos. Em janeiro de 1967,, ingressou no jornal Diário de Lisboa, onde era a única mulher na redação. A sua entrada num mundo de homens causou tanta estranheza aos elementos mais velhos que a sua secretária foi colocada na sala do arquivo, ao lado da redação. Anos mais tarde, ainda antes do 25 de Abril, Antónia de Sousa seria também a primeira mulher a fazer parte da redação do jornal República.
Logo a seguir à revolução, Antónia de Sousa foi convidada para fazer um programa na RTP sobre a condição feminina – tema sobre o qual já trabalhava – e assinou, com a jornalista Maria Antónia Palla, a autoria de Nome de Mulher. Durante dois anos, o programa transmitiu reportagens sobre a vida das mulheres de vários pontos do país e abordou um enorme leque de questões, da participação das mulheres na vida política aos problemas das mães solteiras, a prostituição, o planeamento familiar, a crise económica. Nome de Mulher seria suspenso em 1976, por causa de uma emissão sobre o aborto.

O empenho em trazer para a agenda mediática temas relacionados com a condição feminina fará com que Maria de Lourdes Pintassilgo apelide Antónia de Sousa, Maria Antónia Palla e Maria Antónia Fiadeiro (também jornalista, por esta altura diretora da revista Modas e Bordados) como as «Três Antónias», num paralelismo com «As Três Marias» (Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, autoras do livro Novas Cartas Portuguesas).
Antónia de Sousa desempenhou vários cargos no Sindicato dos Jornalistas, o primeiro dos quais ainda antes do 25 de Abril, como tesoureira suplente da direção de Luís de Barros. Em 1977, Carlos Cáceres Monteiro convidou as «Três Antónias» para a sua lista e Antónia de Sousa ficou como Presidente suplente. Mais tarde, em 1983/84, presidiu ao Conselho Técnico e de Deontologia.
Quando se retirou do jornalismo, após 40 anos de carreira, Antónia de Sousa, nascida em 1940 em Vila Nova de Gaia, integrava a redação do Diário de Notícias.
Publicou dois livros, As Mulheres na Vida de Balzac, e O Império Acabou – Diálogos com Agostinho de Silva, dado à estampa em 2000.
O velório realiza-se amanhã, dia 16, a partir das 16h30, na Basílica da Estrela, em Lisboa. Para as 10h de sábado está marcada uma missa, a que se seguirá, às 12h, a cremação no cemitério dos Olivais.
