Medo da prisão leva média norte-americano à autocensura

O director do “Cleveland Plain Dealer”, Doug Clifton, decidiu não publicar duas investigações jornalísticas da “maior importância” porque o trabalho se baseia em documentos obtidos de forma ilícita e receia vir a enfrentar uma pena de prisão, como sucedeu com Judith Miller, a repórter do “New York Times” que se recusou a revelar as suas fontes.

Em declarações ao Editor & Publisher (E&P), Clifton afirma que os advogados da Newhouse Newspapers, proprietária do jornal, consideraram que havia uma “elevada probabilidade” de a publicação e os jornalistas serem levados a tribunal e condenados.

Ainda segundo Clifton, os repórteres que fizeram o trabalho defendem a edição das suas histórias e dizem-se “dispostos a ir para a prisão”, mas a empresa optou pela autocensura.

O anúncio das investigações levadas a cabo pelo “Plain Dealer” foi feito a 30 de Junho numa crónica de Clifton em que este comentava o caso de Judith Miller.

“No momento em que escrevo, duas histórias de imensa importância estão nas nossas mãos”, escreveu Clifton, acrescentando que “o público teria toda a vantagem em as conhecer, mas ambas se baseiam em documentação fornecida por fontes que teriam grandes problemas em ser identificadas. Publicar as histórias levaria certamente a uma investigação sobre as fontes e ao dilema: falar ou ir para a prisão. Porque falar não é uma opção e ir preso é um elevado preço a pagar, estas duas histórias ficarão por enquanto por contar. Quantas mais haverá por aí?”

O responsável do “Plain Dealer” sublinha que escreveu a sua crónica para mostrar que “haveria consequências” da acção contra Miller e Cooper.

“ LA Times” aconselha medidas para proteger fontes

Sintomática da tensão instalada nos média é a directiva interna do “Los Angeles Times” aconselhando os seus jornalistas a tomar medidas para proteger as fontes, designadamente não as identificando nos seus ficheiros informáticos ou e-mails, porque este material pode vir a ser solicitado pelos tribunais na sequência da decisão judicial do caso Judith Miller.

Questionados pela E&P, a maioria dos editores admite vir a adoptar este procedimento, o que torna evidente que a preocupação e o medo de represálias se instalou nas redacções.

Exemplo significativo é a newsletter enviada recentemente por Phil Currie, vice-presidente do “Gannett”, aos seus funcionários lembrando os Princípios de Conduta Ética do “Newsrooms”, em que refere o princípio de proteger as fontes “em certas, cuidadosas circunstâncias, porque certas circunstâncias o exigem”, ao mesmo tempo que sublinha outro princípio: “Nós obedeceremos à lei”.

Para Currie, importa informar claramente as fontes do “grau de confidencialidade” que pode ser adoptado, e enumera três níveis: “(a) O Jornal não as nomeia no artigo; (b) o jornal não as nomeia a menos que um tribunal o exija; (c) o jornal não as nomeia em nenhuma circunstância.”

Segundo Currie, “apenas deste modo as fontes podem saber qual o grau de protecção que podem esperar”. E aqcrescenta: “Francamente, algumas circunstâncias não justificam o ‘nível c’, e toda a gente deve estar consciente disso.”

Partilhe