Jornalistas paquistaneses processados devido a filmagens

As autoridades do Paquistão decidiram processar Mukesh Rupeta, correspondente da Geo TV, e Sanjay Kumar, repórter de imagem freelance, mais de três meses depois de ambos terem desaparecido em Jacobabad, na província paquistanesa de Sindh.

Os dois jornalistas são acusados de violação do Official Secrets Act por terem filmado uma base aérea paquistanesa, bem como de forjar documentos, pelo que podem vir a ser condenados a duras penas de prisão.

A base aérea em questão foi usada pela coligação liderada pelos EUA durante a invasão do Afeganistão, em 2001, e não se sabe se as instalações continuam a ser utilizadas com essa finalidade.

Mukesh Rupeta e Sanjay Kumar, que se apresentaram no tribunal visivelmente debilitados, estão sob custódia da polícia de Jacobabad, tendo sido transferidos recentemente para uma ala médica. A informação foi dada pela Geo TV, estação em língua urdu sediada no Dubai e que emite para o Paquistão.

Antes de ser transferido para o hospital, o próprio Mukesh Rupeta afirmou, numa breve declaração à France Presse a partir do telemóvel de um visitante da prisão, que estava ser muito maltratado e receava mesmo que tencionassem matá-lo.

Referindo-se ao facto de os dois repórteres terem permanecido em local desconhecido e incontactáveis desde que foram detidos, a 6 de Março deste ano, Ann Cooper, do Comité para a Protecção dos Jornalistas (CPJ) considerou um “ultraje” que durante aquele período não tenham sido divulgadas as acusações que pendiam sobre Mukesh Rupeta e Sanjay Kumar.

Por seu turno, a Repórteres Sem Fronteiras (RSF) afirmou “ser mais do que tempo de o presidente paquistanês, Pervez Musharraf, dizer aos seus serviços de segurança para refrearem estas práticas inaceitáveis”.

A RSF acrescentou que “o governo do presidente George W. Bush também tem o dever de relembrar ao Paquistão que a guerra ao terrorismo não justifica de forma alguma estes excessos”.

De acordo com a organização, desde que Pervez Musharraf tomou o poder, em Outubro de 1999, pelo menos 21 jornalistas paquistaneses e estrangeiros foram sequestrados pelos serviços de segurança do Paquistão.

Protesto contra ataques a jornalistas

Ainda no Paquistão, a 19 de Junho realizaram-se várias manifestações em protesto contra a morte do repórter Hayatullah Khan, raptado em Dezembro de 2005 e encontrado morto no dia 16.

Em Carachi, os jornalistas boicotaram a Assembleia de Sindh, exigindo segurança e protecção e condenando a morte de Hayatullah Khan e outros ataques a jornalistas, enquanto em Gotki a polícia carregou sobre repórteres que protestavam contra a violência crescente de que a classe tem sido alvo.

Apoiando os protestos, o presidente da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), Christopher Warren, sublinhou que “devem ser tomadas medidas sérias para garantir a segurança e a independência dos jornalistas e para pôr fim, de uma vez por todas, a estas mortes brutais e a estes ataques sem sentido”.

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