Jornalistas palestinianos ameaçados

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) apelou à secção de Gaza do Sindicato dos Jornalistas Palestinianos (SJP) para “pensar duas vezes” antes de tentar impedir os repórteres presentes na cidade de fazerem a cobertura dos protestos e conflitos internos palestinianos.

O apelo, divulgado a 23 de Julho, surge na sequência de um comunicado daquela organização, cujo funcionamento é independente da sede do SJP em Ramallah, proibindo os jornalistas de “tratar de todo o tipo de questões bem como de utilizar declarações ou publicações respeitantes aos acontecimentos internos e susceptíveis de difamar, prejudicar ou pôr alguém em perigo”.

O comunicado, datado de 20 de Julho, refere que “haverá sanções contra os jornalistas” que desrespeitem a proibição, imposta no contexto das reacções de protesto à nomeação, em 17 de Julho, do primo de Yasser Arafat como responsável pelos serviços de Segurança. Apesar de o presidente da Autoridade Nacional Palestiniana ter recuado na nomeação, as manifestações exigindo reformas têm-se sucedido nos últimos dias, num crescendo de tensão em Gaza.

Ainda de acordo com o comunicado, de que o Comité de Protecção de Jornalistas (CPJ) transcreve excertos, os profissionais dos média presentes em Gaza são advertidos para se “absterem de cobrir as manifestações armadas”, a “não as fotografar ou filmar”, e incentivados a divulgar “todas as iniciativas que apoiem a unidade nacional e protegam a frente interna”.

Para a FIJ, esta posição não é aceitável, pois considera que “a cobertura dos problemas no seio do movimento palestiniano é da maior importância para o povo palestiniano e não deve ser censurada”. Segundo Aidan White, secretário-geral da FIJ, “se há problemas de segurança eles devem ser resolvidos sem recurso a proibições unilaterais do que os repórteres podem cobrir”, pelo que apela aos responsáveis sindicais de Gaza que “repensem a sua política”.

A FIJ considera ainda “lamentável” a ameaça de retaliações contra os jornalistas que não acatem as advertências, e lembra que os “jornalistas palestinianos têm sofrido ao longo dos anos pela sua profissão e merecem melhor tratamento do que este por parte dos seus próprios dirigentes” sindicais.

Em carta enviada aos responsáveis sindicais dos jornalistas em Gaza e Ramallah, a FIJ apela para que adoptem com urgência uma nova política e pede a todos os grupos palestinianos para que deixem de tomar os jornalistas como alvo. “Neste momento crítico para o povo palestiniano – afirma Aidan White -, o que eles precisam é de verdade e muita verdade, não de censura nem de cultura do medo”.

Também a Repórteres Sem Fronteiras (RFS) manifestou a sua preocupação pela situação em que se encontram os jornalistas em Gaza, e instou o sindicato, em vez de “restringir a liberdade de imprensa”, a “pressionar as autoridades palestinianas para que levem a cabo inquéritos sérios aos numerosos casos não resolvidos de violências contra jornalistas”.

Segundo a RSF, desde Setembro de 2003, no quadro das violências de origem palestiniana, registaram-se uma dezena de casos de agressões a jornalistas, o assalto às sedes da cadeia televisiva Al-Arabiya e do semanário de Gaza “Al-Dar”, para além do assassinato de Khalil Al-Zebin, director do bimensário “An-Nashra”, em Gaza, a 2 de Março de 2004.

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